Jornal Estado de Minas

PADECENDO

A indústria do medo

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Estou tão cansada de tretas que tudo o que eu queria hoje era publicar uma receita de bolo. É tão cansativo ficar repetindo as coisas mil vezes e, em seguida, ver que ninguém entendeu nada do que você disse. Jacques Lacan disse uma grande verdade: “Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou”. O que o outro escuta, interpreta, depende das vivências dele, das crenças dele e do que ele quer entender.





Luis Augusto Malta, meu psiquiatra, escreveu: “A indústria mais lucrativa do mundo”

“Você já reparou que pessoas interessantes, articuladas e maduras emocionalmente raramente falam mal dos outros ou do “sistema”? Preferem sair por aí espalhando conhecimento, sabedoria e boas energias do que concentrar seus esforços contra inimigos - reais ou imaginários. Essa estratégia de criar inimigos para consolidar o poder, embora óbvia e tão antiga quanto a própria civilização, costuma funcionar bem em um primeiro momento porque está intimamente ligada ao sentimento mais intenso que temos - o medo.

A indústria do medo é extremamente eficiente em criar inimigos poderosíssimos em nome de interesses raramente enunciados. Assim, pagãos iriam mandar cristãos para o inferno na Idade Média, judeus iriam corromper a Alemanha nos anos 1920-30, comunistas iriam comer criancinhas nos anos 1950-80. Hoje, é a “ideologia de gênero” que vai acabar com as famílias. Tudo fantasioso, de uma pobreza de argumento de deixar qualquer um constrangido, mas que funcionou muito bem para os interesses de então. Cuidado com o que o medo pode fazer com você. Se ele for provocado repetidamente, você vai acabar comprando ideias que não têm nada a ver com seus valores.

Ideologia de gênero não existe!


Sinto informar, mas não existe mesmo! Não está na literatura! Esse discurso imprudente gerou na sociedade brasileira tamanha comoção por meio do medo, que muitas pessoas compraram o discurso, e vêm sendo usadas como massa de manobra. O discurso do medo leva as pessoas a acreditarem que querem mutilar crianças, fazê-las mudarem de sexo à revelia dos pais, entre outros absurdos.





As pessoas não sabem nem a diferença entre orientação sexual e gênero. Orientação sexual é a maneira como um indivíduo se relaciona afetiva e sexualmente com outras pessoas. A identidade de gênero é a forma como uma pessoa identifica seu próprio gênero e como ela se apresenta socialmente.

Existem crianças que não se identificam com o seu gênero e isso não é uma imposição dos pais, das mães, pelo contrário. Ninguém escolhe ter um filho trans sabendo de todas as violências as quais estão suscetíveis. O Brasil é o país onde ocorrem mais assassinatos de pessoas trans no mundo! O que essas famílias fazem é acolher as crianças e buscar ajuda profissional. Essas crianças são acompanhadas por profissionais por anos. Esses profissionais vão apenas acolher, escutar e minimizar as dores dessas pessoas.

Quando estão maiores, as crianças trans podem fazer o bloqueio da puberdade para atrasar o aparecimento das mamas ou dos pelos. Esse bloqueio é o mesmo feito no tratamento de crescimento e de puberdade precoce. Não é feito indiscriminadamente. É acompanhado por endocrinologista e nunca sem o consentimento da família ou da criança. 





Grande parte das crianças opta por não fazer, não há imposição, há escolha, assim como os tratamentos de crescimento e de puberdade precoce em crianças cisgênero. Para adolescentes com menos de 16 anos e crianças trans, o Conselho Federal de Medicina (CFM) determina que seja feito acompanhamento psicológico, porém sem intervenção de quaisquer tratamentos hormonais.

Somente a partir da puberdade é que o bloqueio hormonal pode ser ministrado. Ele é diferente da hormonioterapia, apenas impede o desenvolvimento de características sexuais mais acentuadas, como os seios para quem nasce mulher e os pelos para quem nasce homem.

Até 2020, a idade mínima para o início da terapia hormonal era 18 anos. Em 2020, o CFM reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para terapia hormonal. Esse procedimento pode ou não fazer parte do processo de transição de uma pessoa trans. Trata-se da utilização de hormônios para promover mudanças físicas. Já a idade mínima para cirurgia de redesignação sexual passou de 21 para 18 anos. Crianças não são submetidas a cirurgias de redesignação sexual!

A hormonioterapia ou terapia hormonal é um dos recursos disponíveis para transição de gênero, promovendo mudanças corporais, fazendo com que a aparência física da pessoa esteja de acordo com sua identidade de gênero. Isso proporciona maior bem-estar físico e emocional. Não existe nenhuma imposição, cada pessoa escolhe se quer ou não passar por algum tipo de tratamento, porque somos seres singulares. Você pode acreditar no Conselho Federal de Medicina ou pode acreditar no vídeo que recebeu no whatsapp, afinal, “a gente só vê o que tem cognição para ver”.