A violência contra a mulher é reproduzida pelos homens cotidianamente. Naturalizada. Um exemplo dessa validação são os inúmeros casos de estupro marital. Uma forma de violência física e psicológica. O uso do corpo da mulher como se fosse um objeto inanimado. O sexo não consentido. Como se o corpo da esposa passasse a pertencer ao marido pelos laços do matrimônio. Muitas mulheres passam por isso sem saber que é crime. Muitos homens cometem esse crime, sem saber que estão cometendo um crime.
A cultura do estupro é assim; às vezes só um toque indevido, outras vezes sexo sem consentimento com a vítima apagada. Essa visão misógina culmina em casos como o da menina de Belo Horizonte que foi carregada por 10 quarteirões, como se fosse um saco de lixo para ser violentada.
O primeiro passo para a mudança é a falar. Denunciar os abusos. Deixar claro que isso é violência contra a mulher. Nossos corpos são só nossos. Ninguém tem direito de nos tocar sem o nosso consentimento!
Deixo aqui o texto da amiga Carol Saletti que foi escrito em 2020, mas, infelizmente, ainda é muito atual.
“Posso dançar sensualmente.
Posso vestir roupas curtas, decotadas, extravagantes.
Posso sair de casa à noite.
Posso ficar bêbada.
Posso enlouquecer.
Posso tirar fotos chupando o dedo do meio, comendo uma banana, de roupas íntimas ou até mostrando meu corpo.
Posso ter transado com vários homens, com seu amigo e até com um desconhecido se assim o quis.
Posso dançar e te olhar nos olhos, sorrir para você, conversar uma noite inteira, ir para uma cama ou qualquer canto escuro.
Mas se eu não quiser que você me toque, ou quiser que você pare de me tocar, você não pode me tocar ou tem que parar imediatamente.
Funciona assim: se eu não quiser te beijar, você não pode me beijar.
Se eu não quiser sentir o seu pênis relando em mim, ou enfiando em qualquer buraco do meu corpo, você não pode fazê-lo.
Se eu não quiser nem ver seu pinto, seu sêmen e quanto mais encostar neles, você não pode me obrigar a isso.
Dançar, sair, tirar foto, me vestir com minhas roupas, usar batom vermelho, beber muito, olhar, sorrir, gargalhar, conversar alto, falar palavrão, ficar com uma pessoa, ou com várias, em comum acordo, nada disso é crime.
Se você não respeitar o meu não, ou mesmo se tiver dúvida do meu sim e me forçar a fazer algo com o seu corpo ou com o meu, você está me violentando, você está me estuprando.
Você é um estuprador, um criminoso de um crime hediondo.
Você tem que ser julgado por uma justiça correta, e não machista, e ir para a prisão.
Chega de impunidade, machismo e de incriminar a vítima!
E que vocês fiquem sabendo, que há estupro de bebês, meninos, meninas, adolescentes, pessoas adultas e idosas.
Há estupro de deficientes, de pessoas em coma, de filhas, de irmãs, de sobrinhas, de netas, de mães, de homossexuais, de transsexuais, de amigas, de colegas, de patroas, de empregadas, de ficantes, de namoradas, de noivas, de esposas e, lá no final da fila, de desconhecidas.
Quem estupra não quer mudança, não aceita qualquer tipo de punição contra si ou contra seus semelhantes. Fala de oportunismo, de mimimi feminista.
Quem foi estuprada, ou tem medo de ser algum dia, tem urgência na mudança dessa cultura perversa.”
Juntas somos mais fortes! BASTA!