Existem leis que regulamentam o trabalho infantil no Brasil. Menores de 13 anos não podem trabalhar. Esse é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. “Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade.” Mas como fica quando os pais veem a oportunidade de ganhar dinheiro usando os filhos?
A exploração do trabalho infantil pelos próprios pais não é assunto recente. Em Hollywood temos muitos exemplos dos abusos sofridos por crianças prodígio. Judy Garland, primeira grande estrela-mirim do cinema, sofreu violência psicológica da própria mãe. Para aguentar as longas jornadas de trabalho nos estúdios, recebia pílulas para dormir, estimulantes para se manter acordada e anfetaminas para saciar a fome.
Drew Barrymore já era uma estrela de cinema aos 7 anos. Aos 9, experimentou bebida alcoólica e aos 12 já havia usado cocaína. A própria mãe a levava para boates e festas em Hollywood quando ela era criança. Aos 13, ela já havia passado por clínicas de reabilitação.
Na série “Menudo Forever Young”, podemos ver os horrores da exploração dos meninos, inclusive sexual. Na Série “A Superfantástica História do Balão” podemos ver os danos psicológicos causados pela fama quando ela vem cedo demais. Michael Jackson também foi menino prodígio e os resultados da fama precoce podem ser vistos no documentário “Leaving Neverland”.
Outro exemplo é Britney Spears, cuja história vem sendo comparada a de Larissa Manoela. Também temos Justin Bieber, MC Melody, Macauley Culkin, Brittany Murphy, Corey Haim, River Phoenix... Exemplos não faltam.
Não é estranho pensar na glamourização do trabalho infantil na TV, no cinema, na música e atualmente, também nas mídias sociais? Crianças com canais no YouTube, no TikTok, chamadas de mini influencers pelos próprios pais. Lembrando que essas mídias sociais não devem ser usadas por menores de 13 anos.
Existe regulamentação para o trabalho infantil, mas e quando o trabalho acontece dentro de casa em vídeos e fotos postados nas mídias sociais com o intuito de monetizar? Os pais estão vendo na internet uma oportunidade de ganhar dinheiro com os filhos. São tantas crianças expostas que a situação vai sendo normalizada. Difícil resistir à tentação de ganhar um extra com os filhos quando se tem uma situação financeira ruim. Ver crianças sendo exibidas pelos pais acaba motivando que outras façam o mesmo. E quem controla essa exposição? Quem controla esse tipo de trabalho infantil disfarçado de brincadeira, de espontaneidade? Até que ponto os pais têm o direito de uso da imagem dos filhos?
Argumentos para que crianças trabalhem produzindo conteúdo nas mídias não faltam, mas falta o bom senso dos responsáveis por essas crianças. Se na infância os pais são os heróis e os filhos vão fazer de tudo para agradá-los, na adolescência as coisas começam a mudar. Eles começam a sentir os danos causados pela superexposição, da fama, das cobranças pelo sucesso e pelo dinheiro, pelo peso de ter se tornado o arrimo financeiro da família quando deveria ser apenas criança.
A internet veio para ficar, é preciso que as leis acompanhem as novidades. Se faz necessária uma lei que regule o uso de imagem de crianças como uma forma de protegê-las. Em qualquer outro contexto, o trabalho infantil é visto como um absurdo, mas quando o trabalho tem como consequência o dinheiro e a fama, ele é glamourizado.
Criança não trabalha! Criança dá trabalho! Precisamos ver esse tipo de atividade infantil como trabalho infantil e refletir sobre o papel dos pais de proteger os filhos, das questões de saúde mental, a fama na infância. Filho não é fonte de renda!