Jornal Estado de Minas

PADECENDO

Adoção de jovens

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Imagina assistir a um vídeo que você recebeu e, naquele vídeo, ser apresentado para o seu filho. Um filho que você não conhecia, que não foi gerado por você, mas estava te esperando!

Viviane Amaral, que faz parte da comunidade “Padecendo no Paraíso”, foi mãe do Lucas aos 17 anos. Anos depois ela conheceu seu marido Cláudio e o casal já falava sobre adoção. Foi participando de um grupo de apoio à adoção que os dois conheceram a realidade dos adolescentes que estavam nas casas de acolhimento aguardando a oportunidade de serem adotados.



Um dia, Viviane recebeu um vídeo em um grupo de whatsapp. Era um vídeo da campanha “Adote um Pequeno Torcedor”, lançada pelo Sport de Recife em 2015, em parceria com a Vara da Infância e da Juventude do Recife. Assistindo ao vídeo, reconheceu seu filho. Viviane não sabe explicar, só sentir. Mostrando o vídeo ao seu marido e filho, a reação deles foi a mesma. Caíram no choro. 

Seu filho era Williams, de 17 anos, um garoto que chegou a morar nas ruas por três anos, passou infância e adolescência morando em casas de apoio (que antes eram chamadas de abrigos). Ele morava em Recife e a família da Viviane morava em Belo Horizonte. O processo de adoção começou com o juiz pedindo para o casal mandar uma carta contando que gostariam de adotar o jovem. A carta foi lida em uma audiência em que Williams também viu fotos da família e se emocionou dizendo ao juiz que eles eram seus pais.

O parto aconteceu no aeroporto de Recife, parto porque, segundo a Vivi, ver o filho ali equivaleu a um parto. Eles passaram 10 dias juntos se conhecendo. O juiz determinou a adoção e ele foi para casa em Belo Horizonte. A mãe conta que, apesar de ter muitos desafios quando um filho “nasce” adolescente, por ele ter um passado, uma história de muito sofrimento e traumas, vale muito a pena. É fundamental estarmos dispostos a fazer dar certo, a amar e receber amor e, principalmente, junto com o filho a escrever uma nova história! Viviane não usa o termo adoção tardia, porque a adoção acontece quando tem que acontecer. Sou obrigada a concordar. 



A adoção ainda é cercada de muitos mitos e preconceitos. A maioria dos pretendentes a adoção quer bebês brancos, saudáveis, sem deficiência, do sexo feminino e sem irmãos. Existem muitos adolescentes nas casas de acolhimento esperando por uma família! São mais de 3 mil jovens de 17 anos esperando para serem adotados. Infelizmente, apenas 1% dos pretendentes à adoção cogitam adotar um jovem de 17 anos. 

Existe o medo do passado, querem adotar uma pessoa que seja um livro em branco, como um bebê. Nós nos esquecemos de que até os bebês têm uma história, que passaram meses no ventre de uma mulher, que nasceram, que carregam vivências desde que foram concebidos. Todos nós temos uma história, nossos cônjuges têm uma história. Uma história que está no passado. A história que vai ser construída no presente é a que importa de verdade.

Existe também um preconceito com a adolescência, considerada uma “fase difícil”. Eu considero um momento riquíssimo na vida de qualquer pessoa: como mãe de adolescente sei o quanto eles têm para nos ensinar. Claro que é desafiador, escolher ser mãe, ser pai, é um desafio. A história da adoção do Williams é inspiradora, ela tem muito amor, e muita disponibilidade afetiva, receita para fazer dar certo.

Que criança, que adolescente está preparado para não ter pais? Biológicos ou adotivos, filhos são uma caixinha de surpresas que a gente escolhe amar quando vier, do jeito que vier. #oamoréoquenosune