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Um fantasma ronda o Brasil

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No teatro da política virtual, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) se intercalaram, esta semana, para apresentar ao governador Romeu Zema (Novo) uma fatura indevida.



Ambos compuseram o coro de vozes da extrema direita, indignadas e em ataque a Zema, depois que este, tentando se afastar do bolsonarismo raiz, deu declarações entre sábado e segunda-feira, que irritaram a família do ex- presidente e o seu entorno.

Em evento empresarial promovido pelo Grupo Lide, de João Dória, nesta segunda-feira, ao se diferenciar do ex-presidente, a declaração zemista que mais “feriu” a narrativa bolsonarista: “Família para lá, negócios e carreiras para cá”. Zema quis dizer que, diferentemente de Bolsonaro, não teria por prática, o hábito de misturar interesses particulares com as questões de estado.

Além da crítica de Zema à forma como público e privado se misturam na prática política de Bolsonaro, também a ideia do governador anunciada de “união da direita” em 2026, durante congresso conservador em Belo Horizonte, promovido por Eduardo Bolsonaro, produziu revolta.



Em hipótese alguma a extrema direita quer ficar isolada: qualquer tipo de “união” vai empurrar o espectro ideológico da aliança mais à esquerda, ainda que permaneça uma direita bastante conservadora. A posição em que está Zema, ora na extrema direita, ora tentando desajeitadamente inclinar-se à direita, irrita o núcleo duro bolsonarista.

Está aí o motivo da reação, por exemplo, de Carlos Bolsonaro, que usou expressões chulas para se referir ao governador mineiro, uma delas – “o insosso e malandro governador de MG” ou “malandro com cara de pastel”.

Neste momento de revés, o bolsonarismo luta para manter o trio de governadores dos estados mais populosos do Brasil sob a sua batuta extremista. É verdade que, talvez, no caso de São Paulo, o peso de Bolsonaro sobre a vitória eleitoral do governador carioca eleito, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seja grande. Mas o mesmo não se pode dizer de Minas Gerais.



Na reeleição de Romeu Zema em primeiro turno da disputa, com 6.190.960 votos – 56,18% dos válidos –, o governador surfou convenientemente na estratégia “Lulema”: evitou atacar Lula, para não perder eleitores que prefeririam ver o petista na presidência, ao mesmo tempo em que gostariam de manter a tradição – apenas duas vezes quebrada desde o instituto da reeleição – de reconduzir o governador ao cargo. Lula obteve em Minas, naquele primeiro turno, 5.802.571 votos (48,29%) contra 5.239.264 (43,60%) de Bolsonaro. Naquele pleito, quem mostrou força foi Zema.

Se alguém se prejudicou no segundo turno da campanha presidencial, foi o estado de Minas Gerais. Romeu Zema, seduzido pelo canto da sereia do seu entorno empresarial bolsonarista raiz, ligou o trator à potência máxima, tentando converter votos no estado, acreditando que se sagraria na disputa como sucessor natural de Bolsonaro.

Por meio de uma bem orquestrada e orgânica rede de pastores e empresários engajados, a ação de Zema conseguiu, entre os dois turnos eleitorais, fazer Bolsonaro crescer em Minas, bem mais do que na média nacional. Foi um resultado muito superior do que, talvez, gostaria o mineiro conservador, traumatizado pelos horrores de um presidente que fazia troça de mortos pela pandemia.



Como se vê, a família Bolsonaro está equivocada em reclamar a submissão de Zema. Mas sobre isso, só se espanta quem não compreendeu que a extrema direita cultua um só líder. Zema precisa se exorcizar de seu fantasma.

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