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Estado de Minas EM MINAS

A marcha do oportunismo

Destes que hoje convocam a marcha, nunca se viu mobilizações em defesa da vida das pessoas já nascidas. Nenhuma marcha contra o crime de estupro


05/10/2023 04:00 - atualizado 05/10/2023 08:47
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Ilustração pernas
(foto: Ilustração)
Até a queda do apartheid na África do Sul, a Igreja Reformada Neerlandesa (NGK), que teve em sua dissidência a formação a Igreja Protestante Africâner, sustentou o regime, defendendo explicitamente a inferioridade da raça negra. Anunciava sua própria interpretação de narrativas bíblicas. Séculos antes, na cidade costeira de Salem, em Massachussets colonial, os delírios de um reverendo fanático, culminaram com a acusação, em nome de Deus, de 144 pessoas por bruxaria, entre as quais, 19 condenadas ao enforcamento. Tituba, uma escrava indígena sul-americana, foi uma das vítimas. Por onde se viaja no tempo, sobram histórias que indignam o senso de justiça e a defesa da vida. Olhar a história em perspectiva, deixa uma única certeza: nenhum desses horrores, um dia praticados em nome de Deus, são aceitáveis hoje.

Talvez, daqui a um século, quem olhar para trás se escandalize com certas marchas. São convocadas por políticos que compreenderão o filão eleitoral ao seu alcance, de expressivos contingentes de fieis, cooptados por uma visão de mundo retrógrada (o que é bem diferente de conservadora). Belo Horizonte vai sediar, neste domingo, sua própria marcha. Quem a convoca são as figuras carimbadas da extrema direita. Arrebanham votos fáceis, com o discurso da “defesa da vida” dos não nascidos, inclusive nas situações em que o Código Penal brasileiro está tem pacificado como “aborto legal”. E a convocam ainda que, no Brasil, não esteja posta, na política brasileira, nenhum tipo de ampliação de possibilidades de aborto. Se assim é, qual o propósito de tais marchas? Nas palavras do deputado federal e pastor Henrique Vieira (Psol-RJ): “O ódio é o motor da extrema direita, é funcional, é lucrativo e é o objetivo”.

Destes que hoje convocam a marcha, nunca se viu mobilizações em defesa da vida das pessoas já nascidas. Nenhuma marcha contra o crime de estupro que aniquila, por ano, 822 mil mulheres, o equivalente a duas por minuto. Tampouco parecem interessados no crescimento dos casos de feminicídio registrados em 2022: foram 1,4 mil mulheres assassinadas apenas pelo fato de serem mulheres – uma a cada 6 horas, em média. Mortas por policiais foram, em 2022, de 6.430 pessoas – uma a cada hora. A lista de estatísticas é longa: crianças mortas em balas perdidas; a cor e o gênero da violência; as mortes por armas de fogo. Mas esta pauta, não dá voto.

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