Para ele, o amanhã nunca esteve à venda. E justamente no dia em que o Congresso Nacional celebrou, em sessão solene, os 35 anos da Constituição Federal, uma nova voz se faz imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL). Não será esta nem a primeira, nem a última vez, que Ailton Krenak salta à cena pública e escreve a história.
Em 4 de setembro de 1987, protagonizou uma das imagens mais marcantes da Assembleia Nacional Constituinte. Da tribuna, enquanto pintava o rosto com jenipapo, referência ao luto Krenak pelo extermínio de mais de cinco milhões de indígenas no Brasil, discursou em defesa dos povos originários.
“Então me senti Juruna”, relembra ele, que é um dos mais destacados ativistas do movimento socioambiental e dos direitos indígenas. Em desafio à então tutela do estado sobre os povos originários, Juruna foi, em 1982, o primeiro indígena da história a ser eleito deputado federal.
Leia Mais
Buraco fundoDuda Salabert candidatíssimaEsqueceram de lerSabatinaO que Bolsonaro quer em MinasMatéria trabalhista“Então me senti Juruna”, relembra ele, que é um dos mais destacados ativistas do movimento socioambiental e dos direitos indígenas. Em desafio à então tutela do estado sobre os povos originários, Juruna foi, em 1982, o primeiro indígena da história a ser eleito deputado federal.
As conquistas cravadas na Carta Magna sucedem algumas vitórias da luta indígena sobre a ditadura. Em 1978, o governo militar havia tentado baixar o decreto de emancipação, que largaria os povos originários à própria sorte, à semelhança do que fez o estado brasileiro, com a população negra escravizada, após a abolição.
A guerra sem fim para arrastar indígenas de suas terras, forçando-os ao modo de vida “civilizado”, do Império à República, segue sob a forma de novas armadilhas, a mais recente batalha vencida, no Supremo Tribunal Federal (STF). Ali foi derrubada a tese do marco temporal para a demarcação das terras indígenas. Obviamente, a guerra segue, no Congresso Nacional.
Mas hoje, para Ailton, é dia de festa. Cento e vinte e seis anos depois de sua fundação, por Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras (ABL) tem um escritor indígena entre os seus membros, exatamente na mesma cadeira - a de número 5 - que em 1977 acolheu a primeira mulher, Rachel de Queiroz. A vaga foi aberta com a morte do historiador mineiro José Murilo de Carvalho, em agosto.
Longe de uma perspectiva pessoal, esta é, para Krenak, conquista revestida da dimensão coletiva e do sentido de reparação histórica.
“Para o Ailton, ter um assento na ABL não é uma ambição pessoal. Mas para a pessoa que se constitui no sujeito coletivo, esse gesto é para abrir a porta dessas instituições, assim como as cotas abriram as vagas nas universidades e hoje temos mais de 60 mil indígenas dentro das universidades fazendo a sua formação em ensino superior. Alguém tem de começar isso”, afirmou ele em agosto, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.
Leia também na coluna de hoje da Bertha