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O que seria de Bolsonaro sem as temáticas do aborto, maconha e de gênero?

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“Eu saí da Presidência e veio maconha, aborto, propriedade privada, marco temporal, parece que estava tudo represado.” O que seria de um Jair Bolsonaro (PL) neste “pós-lavajatismo” sem as temáticas do aborto, da maconha e de gênero?

Neste fim de semana em Belo Horizonte, o ex-presidente da República repete a fórmula. Sempre mirando o público previamente “preparado” por pastores, que integram “o projeto”. Sob a evocação que contrapõe “Deus” a “satanás”, voltou a enquadrar a abordagem da tríade das temáticas, de complexidade indecifrável aos prisioneiros da lógica binária e maniqueísta.



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Com a constrangedora manipulação da Bíblia, o ex- presidente seguiu abusando do versículo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Inelegível, é alvo de várias investigações. Na lista: o escândalo das joias; o envolvimento nos ataques criminosos de 8 de janeiro; e a falsificação do cartão de vacinação.

Com o fim do mandato de Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República (PGR), é esperada uma nova frente de investigação: as responsabilidades na pandemia de COVID-19, listadas pela CPI da COVID-19, realizada no âmbito do Senado Federal, em 2021.

O ex-presidente, que em lives gargalhava ao imitar pacientes de COVID-9 que sofriam de insuficiência respiratória; que estimulava pessoas e até crianças a não usarem máscara, expondo-as ao vírus; planeja sair hoje em campo prospectando votos de fieis, ao lado dos políticos que exploram o mesmo público. Trata-se da marcha de suposta “defesa da vida”.





O núcleo discursivo, que mobiliza a população de viés religioso, assídua em igrejas associadas ao projeto de uma nação totalitária, teocrática e fundamentalista, imbrica as três temáticas: aborto, gênero e maconha.

Estas, encobrem a real discussão que assola o Brasil: o problema de sobrevivência, que constrange largos contingentes populacionais já nascidos, que transitam neste mundo desigual, discriminatório e extremamente perverso. Sob a perspectiva política, a extrema direita saiu na frente e aprendeu a usar, na guerra híbrida para desestabilizar estados democráticos, as informações individuais coletadas pelos conglomerados tecnológicos.

Estes, com o apoio de algoritmos, segmentam em “feudos” as informações cotidianas postadas pelas pessoas, segundo crenças religiosas e predisposições políticas. Ao mapear os territórios físicos dos “feudos virtuais”, tais conglomerados influenciam o debate e os processos eleitorais.



Com o controle do fluxo de informações estimulam a polarização, para destruir o senso de unidade de cada nação. O mundo da política está assim submetido ao novo contexto: o tecnofeudalismo.

Os segmentos democráticos da sociedade brasileira precisam compreender o que está em jogo e parar de bater palma para maluco dançar. O deputado federal mineiro André Janones (Avante), que faz o combate digital das milícias da extrema direita, tem lá a sua razão.

Na tecnopolítica, o que vale é a versão, não o fato. A figura risível de Bolsonaro está fragilizada, mas os candidatos ao espólio eleitoral estão aí, e não são poucos.