(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas EM MINAS

Lé sem cré em narrativas misóginas: instituições não podem ser cúmplices

'Será que Minas Gerais, que lidera o ranking do feminicídio no Brasil, precisa de mais esse incentivo?'


26/10/2023 04:00 - atualizado 26/10/2023 08:54
709

Ilustração Bertha
(foto: Ilustração)
Eles acreditam que podem fazer o que bem entendem. Ofendem, ameaçam, insultam. Os alvos são sempre mulheres. E gravam. Precisam compartilhar as ofensas, a uma audiência igualmente prisioneira de um imaginário discursivo do homem que submete, que manda, que exibe a sua arma ao estilo: “Obedece ou eu te calo”.

A narrativa performática é parte do jogo. Querem provar que são intocáveis. Quando esse tipo de conteúdo salta, das mídias digitais do homem comum para as redes de um parlamentar, ganha aspecto institucional. Por isso, mandatários devem zelar pelas mensagens, já que na fala, está a mais genuína ação política.

Da bancada de 15 deputadas estaduais – que não alcança 20% do plenário – quatro parlamentares, quase 30% –  estão, na Assembleia Legislativa, sob ameaça de vida. Todas vinculadas à Comissão de Direitos Humanos precisam de escolta policial. Andréa de Jesus (PT), presidente; Bella Gonçalves (Psol), vice-presidente; Lohanna (PV), suplente; Beatriz Cerqueira (PT), suplente. Andréa de Jesus há mais de um ano; Bella, Lohanna e Beatriz, há 70 dias.

Quando o ataque a qualquer deputada, já sob proteção do estado, é desferido por um parlamentar, o que se chancela neste momento é a naturalização da violência.

Será que Minas Gerais, que lidera o ranking do feminicídio no Brasil, precisa de mais esse incentivo? E aí, nesse momento, há um delírio narrativo, pois os assuntos desconectados são destilados para justificar a violência, como se realmente lé e cré fizessem sentido.

Alguém me explique, por favor, qual o sentido de um agressor assim se justificar: “Essas mulheres são as mesmas que proíbem a dona de casa de ter uma arma de fogo pra se defender quando é ameaçada pelo marido”? A reação unânime de líderes da Assembleia –  da direita à esquerda, em repúdio - é um claro sinal de que o Legislativo mineiro não aceita se vincular a esse comportamento.  As instituições democráticas não podem ser cúmplices da barbárie.

Leia também na coluna da Bertha de hoje:

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)