Onde estamos na epidemia? Esta é a pergunta que amigos, familiares e jornalista me fazem todos os dias. Num misto de exaustão pelo isolamento social e esperança pela volta da “normalidade”, todos sem exceção, se sentem gratos pelos resultados até aqui alcançados.
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O número de mortes está abaixo do inicialmente projetado pelos cenários mais otimistas.
Entretanto, vivemos um frágil equilíbrio entre a racionalidade e o desespero.
O sucesso das medidas em curso coloca em xeque as próprias medidas. Se temos tudo controlado, porque não liberamos geral e voltamos para nossas vidas como se nada tivesse acontecido. Como se tivéssemos vivido um grande equivoco, mas valeram as férias forçadas.
Não é bem assim.
A epidemia de COVID-19 terá ondas recorrentes em nosso país. Não somos a França, Itália ou Alemanha. Somos quase um continente. A epidemia por aqui, como dissemos em colunas anteriores, ocorrerá em distintas fases com ondas de idas e vindas em classes sociais e regiões. Se não tivermos uma vacina eficaz, segundo estudos de pesquisadores da Universidade de Harvard, a epidemia persistirá em surtos até 2024.
Se hoje temos sucesso, não podemos contar vitória antes da hora. O vírus circula de em níveis contidos pela disciplina e pelo jeito mineiro de ser.
Nós, mineiros, temos em nosso gene mineral a sabedoria de quem sabe esperar. Escutar mais e falar menos. Como dizia Benedito Valadares, “estou rouco de tanto ouvir”. Assim somos, prudentes e amantes da nossa essência, que preserva o que há de mais valioso: nossas vidas e a de quem amamos.
Nós, mineiros, temos em nosso gene mineral a sabedoria de quem sabe esperar. Escutar mais e falar menos. Como dizia Benedito Valadares, “estou rouco de tanto ouvir”. Assim somos, prudentes e amantes da nossa essência, que preserva o que há de mais valioso: nossas vidas e a de quem amamos.
Minas é saborosamente mágica, como catalogou Frei Betto, em suas inúmeras definições do que é ser mineiro.
Na epidemia de 1918 não foi diferente. A nossa disciplina e prudência impediu que a doença por aqui tivesse os catastróficos números do Rio e São Paulo. O cumprimento das medidas de isolamento social foram a chave naquela época e no presente.
Porém, a pressão para que haja uma liberação a qualquer custo das medidas preservaram a vida de milhares de vidas aumenta dia após dia.
Por vezes, querem saber quando será o pico!! Mas, quem disse que teremos que ter um pico além do Itacolomí?!
Percebo que há uma angústia por chegarmos ao pico da epidemia, como se, assim, a normalidade estivesse logo ali na esquina. Me lembra a dor de tirar um esparadrapo, quanto mais rápido o puxamos menor o tempo do sofrimento.
O pico de uma epidemia é também o momento de muita dor para milhares de famílias.
Somos gente que não nasceu destinada à tristeza e ao sofrimento. Nossa obrigação é buscar a felicidade e a alegria.
Desta forma, nosso desfio é não termos pico algum. Lutaremos para que a curva se mantenha a mais achatada possível.
Assim, estaremos cada vez mais próximos de um tratamento efetivo, de uma vacina e da circulação de vírus menos agressivo. Isso porque a sábia natureza configurou os parasitas com a sabedoria de não destruir todos os seus hospedeiros. Se assim ocorresse, seria a morte do próprio parasita e sua extinção.
Na epidemia atual, existem coronas vírus distintos em circulação. Os mais agressivos, felizmente, são a minoria. Com o tempo, circularão as cepas menos agressivas, que permanecerão por tempo indefinido.
Portanto, este é um lado do isolamento social ainda pouco valorizado.
Não queremos picos e nem encher covas, apesar de a termos aberto, por prudência mineira.
Como diz o ditado, “o bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira em pé de vento, não pisa no escuro, não anda no molhado, só acredita em fumaça quando vê fogo, não estica conversas com estranhos, só arrisca quando tem certeza, e não troca um pássaro na mão por dois voando”.
Assim, vamos seguindo vivos e com a esperança de que vai passar. Porque vai passar, mas enquanto isto, fiquemos em casa com a paciência e prudência que Deus nos deu.