Jornal Estado de Minas

CARLOS STARLING

O coronavírus e o presidente Bolsonaro

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(foto: Lor)

Pronto! Encontrei o bicho.
 
Não foi fácil adentrar o ser. Olhei o receptor ACE2 e, sinceramente, hesitei.  Para evitá-lo, me isolaria na Sibéria, usaria máscara, ficaria a 2 metros do ser de 2 pernas e quadrúpede nas condutas.




 
Afinal, não mereço destino tão cruel...  Mesmo tendo apenas 1 fita de RNA, mereço consideração! 
 
Não tenho neurônios, mas tenho juízo e respeito por aqueles da minha espécie, aos quais peço perdão pelo equívoco.
Se evoluímos na China, aqui retrocedemos.
 
Do morcego ao homem, passando pelo Pangolin foram séculos de evolução. Bastou um lapso e migrei retro-especificamente. 
 
Todos erram, mas eu me descuidei exageradamente em Araguari. Passei de mão em mão, por narizes descobertos, bocas cuspideiras e de repente, pqp lá estava eu na narina do dito-cujo. Aprendi esta bela expressão com ele!  
 
Enquanto membro da nobre família dos Beta-Coronavirus, claro, tive mais sucesso nas cidades que começam com B:- Beraba, Berlandia e Biá, tinha que ser lá! Errei de analfabeto! Coisa de quem chegou a pouco de fora e ainda não domina o idioma.
 
Peço perdão ao povo dessa cidade, por ter sido capturado antes de visitá-los. Afinal, causaria menos danos que o predador de Coronas. 
Meu destino de sucesso, e de toda minha família, foi cruelmente desmoralizado frente ao poder da Cloroquina




 
Implorei de joelhos: - Cloroquina não! Cloroquina não! Cloroquina não!
 
Mas, com crueldade e arma em punho ele deglutiu a bomba atômica viral em frente a câmeras de TV. 
 
Em poucas horas, com apenas uma única dose, cambaleei e caí desmoralizado frente a arma letal presidencial. Nunca vi porrada tão forte!
 
Cloroquina maldita!
 
Descrevi até aqui, o destino cruel de um pobre vírus que penetrou o ser errado. Desvirtuou-se da sua espécie e, por mero descuido alfabético, em Araguari, degenerou-se e caiu em desgraça.
Mas, o que tem o ser infectado de tão especial, além da Cloroquina na algibeira?! 
 
Arrogância, insensibilidade, negacionismo e covardia para com os mais vulneráveis do país que o elegeu.
 
Com desrespeito pelos mais velhos, descaso pela educação e pela natureza esplendorosa de suas florestas, o incrédulo segue em sua trajetória beligerante e incendiária. 
 
O país sangra e ele ri. Seus cidadãos são enterrados de forma grotesca em valas comuns e ele debocha. O luto lhe parece estranho...como chama atenção João Moreira Sales, editor e fundador da Piauí em seu artigo Tempos de Peste- A Morte e a Morte.




Sales chama atenção para algo peculiar na personalidade do Presidente:

“A princípio, pode causar espanto a indiferença de Bolsonaro pelos mortos da pandemia, por brasileiros que, em boa parte, morreram em decorrência da forma catastrófica com que ele escolheu enfrentar a crise. Fez vítimas, portanto. A frieza se torna mais compreensível quando se observa o que lhe acelera o coração. Bolsonaro não se comove com a natureza, a arte lhe é estranha, a religião não passa de um adereço político, a ciência o ofende. Até o luxo parece deixá-lo indiferente. A violência, não. É quando fala nela que parece mais vivo e potente”.
 
A ciência fala, por aqui... ele diz, por ali! Induzindo seu povo ao caminho enganoso e catastrófico. 
 
Desesperado para ter o protagonismo do controle da epidemia, financia e propagandeia tratamentos Fakes, sem consistência científica. Mas, em fakes ele é catedrático... 
 
Ao politizar um problema clinico-epidemiológico de ineditismo secular, sob o qual debruçam as mentes mais brilhantes do planeta, ele militariza um ministério para que sigam o comando de alguém que jamais comandou coisa alguma. Provavelmente, em breve, ressuscitará Lysenko para assumir a pasta sem ministro.
Prepotente e obtuso, zomba do conhecimento que não lhe penetra, assim como, da consciência e princípios éticos cujo cargo que ocupa, exige.
 
Porém, todo vírus tem o destino que merece. 
Coitado deste Corona.
 
Leia aqui: Estudo randomizado de hidroxicloroquina como profilaxia pós-exposição para Covid-19