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Estado de Minas COLUNA

O hospício do universo: 'Hospitais e pacientes viraram mercadoria e médico coisa descartável'

Viramos uma massa branca, amorfa, insípida e inodora, contaminada e, frequentemente, infectada pelo vírus da ganância e do oportunismo que nos permeia


(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Onde está o real valor das coisas?! Na forma ou no conteúdo?!
Depende muito de quem olha. Ao comprarmos um objeto, a forma é importante, mas o que realmente faz diferença é o conteúdo.

As paredes de um hospital guardam a história de centenas e milhares de pessoas que nasceram, viveram, morreram e sobreviveram daquele local. 

Mas, o mundo e o tempo transformaram as histórias num ponto de GPS. Fomos atropelados por satélites e pela frieza de um olhar distante dos ideais de um passado recente.

Este conflito vivemos hoje no mundo da medicina mercantilizada, onde hospitais e pacientes viraram mercadoria e médico coisa descartável como uma caneta sem tinta, incapaz de colocar um ponto final.

Nos entrincheiramos de forma cooperativa, mas, ao mesmo tempo, perdemos a identidade do saber que nos diferencia. Caímos na vala comum, onde em tempos pandêmicos corremos o sério risco de sermos enterrados como indigentes.

Este é o dilema que vivemos hoje como médicos. Cerceados em nossas condutas por protocolos recheados de conflitos de quem vende, ou de quem paga o tratamento que ofereceremos aos nossos pacientes.

Assinamos e assassinamos em nome de uma racionalidade e parâmetros qualitativos que jamais fizeram parte dos princípios éticos pelos quais juramos. Mas a engrenagem é a realidade dos dias pandêmicos libero-teocráticos atuais.

Viramos uma massa branca, amorfa, insípida e inodora, contaminada e,
(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
frequentemente, infectada pelo vírus da ganância e do oportunismo que nos permeia.

Ao violarmos princípios constitucionais da saúde como direito de todos e dever do Estado, cometemos um erro capital. Viramos tão indigentes quanto os pacientes abandonados nos quatro cantos deste país à sua própria sorte.

Mas nosso caminho não está fechado. Temos a opção de mudá-lo. Temos a opção de dizer não! Nossos pés nos levam pelos caminhos que escolhermos. E o tempo é rei!

Cronos devora seus filhos sem piedade, expondo suas mazelas ocultas. Pouco a pouco, as verdades vão aparecendo, seja na floresta onde camufladas se escondiam, ou na inocente loja de chocolates no coração do Rio de Janeiro.

Fumegadores de plantão em instituições médicas já não mais farão apologia de tratamentos fakes a enganar a população. Foram banidos do trampolim político pelas canetas sem tinta...

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.” Ao ver este tipo de slogan, fico em duvida se estamos enfrentando o coronavirus ou a peste negra no século 14.

Regredimos aos designíos divinos e a uma postura típica da inquisição. Com a cena dantesca de “fiéis” na porta de um hospital protestando contra o aborto, clinica e legalmente indicado de uma criança de 10 anos, violentada pelo tio desde os 6 anos, tive a nítida convicção que havia voltado no tempo.

O país onde um deputado eleito vira presidente e confessa ter mantido um apartamento funcional em Brasília, pago com dinheiro público, durante vários anos, para manter relações sexuais fortuitas. Para “comer gente”, como afirmou! Curioso, sempre pensei que fossem os comunistas que comessem gente... 

Mas, estamos mesmo vivendo no hospício do universo.

Uma pastora, deputada com dezenas de filhos adotivos, casa-se com o marido da própria filha, o qual também era seu filho e o mata por não poder se separar. Isto poderia ofender a Deus e prejudicar a sua imagem e fé cristã. Deus me perdoe, mas esta é uma lógica do diabo

Ainda corroborando a tese de São Tomas de Aquino, vimos com perplexidade a indicação esta semana de um veterinário para coordenar o nosso PNI- Programa Nacional de Imunizações, reconhecido mundialmente pela sua excelência.

Nada contra os veterinários, mas será que não teríamos neste vasto país nenhum outro profissional de saúde humana competente para o cargo?!

O que me preocupa não é o profissional, mas a lógica da indicação e a possibilidade do próximo passo ser a transferência do nosso laureado PNI para o Ministério da Agricultura. Afinal, a tão sonhada imunidade de rebanho deve ser algo mais próximo de bovinos do que de gente.

Certamente, deve ter sido este o raciocínio de alguém que “come gente” e se esquece de incentivar a vacinação de gente, afinal, não querer vacinar é normal num regime democrático, como afirmou.

Nada me assusta mais. Nem o terremoto da Bahia e muito menos a prisão de mais um governador do Rio. Este último, normalíssimo, considerando o histórico dos últimos ocupantes do cargo. 

Entretanto, ficaria gelado se em Brasília parasse um motoqueiro ao meu lado perguntando se eu teria 89 mil... 

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