Quando um não quer, "duas lombrigas", dizia meu pai.
Rafaela tem seis anos. Fazendo seu dever de casa durante a pandemia perguntou:
- Se nascemos da barriga, quem foi que nasceu primeiro?!
Deveriam criar o Darwin para crianças, pensei... Tentamos exemplificar com a história do ovo e da galinha. Ela não teve dúvida:
- Então, o Papai do Céu é uma galinha!!
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''Sou a favor do retorno às aulas presenciais, com segurança''Um presente de NatalPara onde foi o sorriso?Companheiros de trincheira numa guerra chamada pandemiaE 2021 nasceu...parece que nada mudou2020, Uma retrospectiva: A vida mudou radicalmenteApós esta conclusão, Rafaela não mais comeu galinha. Não se sentia bem comendo Deus. Mas, frango sim. Esse pode!
Nessa mesma semana, fui convidado para uma banca de doutoramento em Bioinformática no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Meu amigo Cachaça, orientador da tese, cujo nome oficial é Marcus, me chama por um motivo que somente no final descobri.
Sou péssimo em informática. Digito com dois dedos, como a maioria da minha geração, e quase tenho convulsão diante de uma raiz quadrada. Na parte Bio eu navego e chego em portos seguros, não sem passar por turbulências.
Marcus Cachaça, meu companheiro no TDR (Time da Rua), e seus pós-graduandos, são garimpeiros de moléculas. Dissecam e reorganizam os átomos. Criam o que certamente um galináceo jamais pensaria, nem eu! O mais fascinante nessas pesquisas é o fato de podermos reorganizar a matéria a nosso favor. Se podemos reinventar a matéria, porque não a nós mesmos?!
O meu papel na discussão dessas teses, cujos pesquisadores trabalham arduamente por vários anos, é avaliar e sugerir perspectivas futuras para essa nova matéria. Curioso né?! Brincamos de Deus, fazendo malabarismo atômico e até mesmo preparando um frango ao molho pardo. Deus ao sabor mineiro. Galinha não pode...
A matéria transformada abre caminho para que a vida seja mais saborosa e as pessoas degustem a existência até não mais estarem em forma de gente, ou galinha.
Mas, o pó da estrela continuará o seu caminho rumo ao infinito, tendo como destino ser questionado novamente com a pergunta:
- Pra quê?!
Certamente, para que, num futuro cósmico, o seu filho possa lhe fazer uma saborosa pergunta:
- Pai, Deus é uma galinha?!