Jornal Estado de Minas

O meio do nada

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Nada tem no meio do nada.

No meio do nada, tudo se esconde.

O meio do nada, esconde o meio, o tudo e o nada.

No meio do nada surge um homem a cavalo tocando uma vaca.

A vaca é o mundo que o homem toca.



O homem toca o mundo e a vaca.

A vaca e o mundo caminham com o homem.

O caminho não tem fim,

mas começa em algum lugar e termina em lugar algum.

Há um caminho por caminhar...

Vida que acaba em algum lugar,

homem, vaca e caminho começam e terminam,

lugar nenhum os espera,

chegarão sempre juntos em lugar algum...


Inicio o texto desse fim de semana descrevendo a preocupação do universo com a pandemia e os nossos problemas diários. Abraçamos nossos problemas como uma tábua de salvação para suportarmos a dureza da existência. Assim como o universo não nos enxerga, nosso Messias também não.

Nesse caso, cegueira intelectual, moral e ética. Mas, quem fez o nada, nada fez... Se elegemos o capitão Zero à esquerda, zero à esquerda é Zero. Nota merecida para quem não fez o dever de casa. Fugiu da escola e não fez moral e cívica.



No nada buscamos a luz, mesmo que as trevas nos abrace nos dias azuis. A piedade é universal, mesmo que a sentença seja mortal. A esperança é o que nos mantém vivos e produtivos, a poesia catapulta a alma.

Vai, vai, vai...

Na próxima semana, mais precisamente no dia D, na hora H ignorada, e no ponto G, iniciaremos provavelmente a vacinação no Brasil e a colocar os pingos nos Is.

Espero que seja no dia 20. Um presente de aniversário inusitado. Ao invés de mais uma flechada mortal, uma agulhada salvadora. São Sebastião recebendo vacina, ao invés de flechas. São Sebastião, meu santo guerreiro e eu, agradecemos. Seja qual for a vacina, será bem-vinda.

Todas passaram por estudos clínicos sérios e metodologicamente adequados. Enganam-se os que pensam que essas vacinas foram desenvolvidas às pressas e sem critérios de segurança adequados. Desde 2002, pesquisas estão sendo feitas com o objetivo de prevenir infecções por coronavirus. Estas pesquisas iniciais, para controle da SARS, ganharam um novo impulso em 2012, por ocasião da epidemia no Oriente Médio - MERS.



Em 2019, estas pesquisas foram catapultadas pela atual pandemia. Portanto, ciência se faz através do conhecimento acumulado e compartilhado ao longo de vários anos. Curiosamente, tem gente que vai ao mercado e compra uma série de ervas para fazer chás milagrosos que jamais foram estudados cientificamente. Mas tem medo de vacina.

Outros tomam remédios que cientificamente já foram avaliados e tiveram a sua eficácia negada por estudos metodologicamente adequados. Mas tomam, se expõem ao vírus com a expectativa de estarem protegidos e, não raramente, morrem.

Cada dia mais, essas histórias batem à porta dos nossos consultórios. Adeptos de tratamentos precoces e distribuidores do "kit ilusão" não são diferentes das cartomantes que prometem trazer seu amor de volta em 24 horas. Aliás, fazem um mal bem maior. Apadrinhados pelo Messias e pela tropa ministerial, se apresentam como salvadores da Pátria amada Brasil.



Distribuindo os mágicos saquinhos de remédio à população, tentam enterrar, junto com os corpos dos pacientes, a improbidade administrativa e o crime de responsabilidade por preconizar e gastar o dinheiro público com drogas inúteis para tratar este vírus.

Em troca, recebem cargos públicos e se ancoram na máquina estatal para ter uma notoriedade que jamais tiveram com médicos e, muito menos, como cientistas. Aprendi com uma amiga, jurista do mais alto quilate, que atitudes como estas são, na realidade, uma "vacina jurídica". Essa eu não encaro, mas a denuncio como fruto da mais perversa atitude contra o povo brasileiro.

Ao contestarem e processarem instituições que defendem princípios científicos sérios - como a SBI-Sociedade Brasileira de Infectologia, SBP-Pneumologia, AMIB-terapia Intensiva e tantas outras - e propor estratégias terapêuticas sem fundamento, lança-se a flecha macabra da dúvida sobre uma população apavorada e sem um Norte.

Norte que, imerso na maior usina de oxigênio do planeta, vê o seu povo morrer nas ruas, ironicamente, por falta de ar. Onde falta oxigênio, sobra Cloroquina em saquinhos de ilusão.

Neste momento, o nosso Norte deve ser as vacinas, as máscaras, o distanciamento social, a higiene de mãos e a paciência para lidarmos mais um ano com a pandemia e todas mazelas criadas pelos negacionistas empoleirados no poder.

Estamos neste momento, ainda no meio do nada, mas chegaremos...



audima