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ARTIGO

Você tem certeza?!, questiona Carlos Starling sobre mensagens de WhatsApp

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"Minha previsão de que a COVID-19 praticamente desaparecerá em abril, baseia-se em dados de laboratório, dados matemáticos, literatura publicada e conversas com especialistas. Mas também se baseia na observação direta de como os testes têm sido difíceis de obter, especialmente para os pobres" - escreveu ele no artigo para o Wall Street Journal.




 
 
 
Curiosamente, essa mensagem foi postada em diferentes grupos de WhatsApp que participo, exatamente pelos mesmos negacionista de sempre. Aqueles que cultivam o Mito de olhos fechados, assim como, cultivam bezerros de ouro.

Também é intrigante como as postagens e lives no WhatsApp tem um ar de verdade absoluta.

Especialistas em coisa nenhuma viram experts e se expressão com certezas impossíveis para o momento epidemiológico que vivemos.

Geralmente recebo essas “verdades premonitórias “ de várias pessoas. Algumas incrédulas e outras esperançosas. Invariavelmente, todas buscam uma resposta que corrobore às suas expectativas.





A líquida sociedade em que vivemos exige respostas rápidas e assertivas, mesmo diante da mais inusitada epidemia que já vivemos.

Nesse um ano de pandemia já vimos de tudo: gente subindo e caindo do cavalo aos montes.

Mas, insistem em subir e cair novamente. Semelhante à brincadeira do touro mecânico de parques de exposição de gado. Lembram da música, levanta sacode a poeira e da volta por cima... e não desanima... Cabe vez que emergem da poeira já saem com uma nova pérola na algibeira.

Começaram com a cloroquina, passaram para a ivermectina e foram em frente com corticoide precoce, azitromicina para todos, etc. Quase invariavelmente, os seus defensores eram de diferentes especialidades e quase nunca infectologistas e epidemiologistas.





Claro, isto não quer dizer que todos não tenham o direito de emitir suas opiniões sobre o assunto. Mas, prudência, canja de galinha e um pingo de humildade não fazem mal a ninguém.

Os poucos infectologistas que defenderam estes tratamentos, tinham evidentes conflitos de interesse para galgarem postos em instituições governamentais. Alguns conseguiram e estão lá, dando as suas cloroquinadas.

Um dos aspectos mais críticos dessa matéria e que me chamou a atenção é a definição de data para término da pandemia. Certamente não tem nada de brasileiro nesta precisão cronológica.

Recebi há alguns dias atrás uma mensagem, sem autoria, da competência nacional para definir datas de entrega de algum trabalho. Me lembrou alguém - dia D, hora H.

Para evitar que estrangeiros fiquem “pegando injustamente no nosso pé”, está se compilando o “Dicionário Brasileiro de Prazos”, que já deveria estar pronto, mas atrasou. No entanto, conseguimos ter acesso a alguns termos que podem ser de grande ajuda:

DEPENDE: envolve a conjunção de vários fatores, todos desfavoráveis. Em situações anormais, pode até significar sim, embora até hoje tal fenômeno só tenha sido registrado em testes teóricos de laboratório. O mais comum é que signifique diversos pretextos para dizer não.





JÁ JÁ: aos incautos, pode dar a impressão de ser duas vezes mais rápido do que já. Engano; é muito mais lento. Faço já significa “passou a ser minha primeira prioridade”, enquanto “faço já já” quer dizer apenas “assim que eu terminar de ler meu jornal, prometo que vou pensar a respeito”.

LOGO: logo é bem mais tempo do que dentro em breve e muito mais do que daqui a pouco. É tão indeterminado que pode até levar séculos. Logo chegaremos a outras galáxias, por exemplo. É preciso também tomar cuidado com a frase “Mas logo eu?”, que quer dizer “tô fora!”.

MÊS QUE VEM: parece coisa de primeiro grau, mas ainda tem estrangeiro que não entendeu. Existem só três tipos de meses: aquele em que estamos agora, os que já passaram e os que ainda estão por vir. Portanto, todos os meses, do próximo até o Apocalipse, são mês que vêm!

NO MÁXIMO: essa é fácil! Quer dizer no mínimo. Exemplo: Entrego em meia hora, no máximo. Significa que a única certeza é de que a coisa não será entregue antes de meia hora.





PODE DEIXAR: traduz-se como nunca.

POR VOLTA: similar a no máximo. É uma medida de tempo dilatada, em que o limite inferior é claro, mas o superior é totalmente indefinido. Por volta das 5h quer dizer a partir das 5 h.

SEM FALTA: é uma expressão que só se usa depois do terceiro atraso. Porque depois do primeiro atraso, deve-se dizer “fique tranqüilo que amanhã eu entrego”. E depois do segundo atraso, “relaxa, amanhã estará em sua mesa”. Só aí é que vem o “amanhã, sem falta”.

UM MINUTINHO: é um período de tempo incerto e não sabido, que nada tem a ver com um intervalo de 60 segundos e raramente dura menos que cinco minutos.

TÁ SAINDO: ou seja, vai demorar. Os dois verbos juntos indicam tempo contínuo.





VEJA BEM: é o Day after do depende. Significa “viu como pressionar não adianta?” É utilizado da seguinte maneira: “Mas você não prometeu os cálculos para hoje?” Resposta: “Veja bem…”
Xiiiiiiii… Se após a frase: Não vou mais tolerar atrasos, você ouvir este som entenda que ele exprime dó e piedade por tamanha ignorância sobre a nossa cultura.

ZÁS-TRÁS: palavra em moda até uns 50 anos atrás e que significava ligeireza no cumprimento de uma tarefa, com total eficiência e sem nenhuma desculpa. Por isso mesmo, caiu em desuso e foi abolida do dicionário.

Acredito que o colega cirurgião, deve ter feito estágio no Brasil, pois se referiu a imunidade de rebanho de Manaus com muita familiaridade com a região onde nunca esteve. Ele não definiu Abril de qual ano!

O dia, não tem dúvida! Certeza ABSOLUTA: 1º de abril!

Aliás, todas as vezes que alguém me diz que, nessa epidemia, que tem certeza absoluta de alguma coisa, eu me lembro de um episódio dos três patetas: Larry, Moe e Curly.

Joe, o mais esperto dos três disse:

- Os cientistas dizem que só os idiotas têm certeza absoluta das coisas.

Então o Moe perguntou:

- Você tem certeza?

Ele respondeu:

- Absoluta




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