Vocês devem ter reparado que nos meus artigos mais recentes não falei de pandemia ou coronavírus. Uma breve lembrança, talvez, no máximo.
Cansei dessa pandemia. Ou melhor, cansamos. Mas a realidade é que ela não acabou e nem vai acabar tão cedo.
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Mesmo estando cansados mas não da para fraquejar agora. A vacina está quase chegando no braço de cada um, temos que seguir adiante.
E depois, ir para onde?? Ninguém nos aceita em lugar nenhum desse planeta.
Viramos espanta bolinho. Figuras non gratas até no Paraguai.
Nosso lugar é aqui! Temos que pegar o boi pelo chifre e resgatar nossa alegria. Isso sim, sabemos fazer como nenhum outro povo: - promover alegria.
Nosso humor é epidêmico: nos transforma, rejuvenesce e alivia qualquer cansaço.
Exatamente por isso, criamos o nosso depósito de piadas pandêmicas da SBI, sobre o qual já comentei em coluna anterior.
É nesse grupo que nos refugiamos algumas vezes ao longo do dia para nos reabastecermos da endorfina de uma boa risada.
Hoje revisitaremos este celeiro de humor pandêmico. Uma das postagens recentes lembra o nosso saudoso Ariano Suassuna: “na minha família quem não é doido junta pedra pros doidos jogar no povo”. Sabedoria pura de um homem maduro, sem medo das próprias fragilidades. Nos dias atuais, a discussão sobre a loucura é mais do que pertinente.
A pandemia escancara os desequilíbrios psiquiátricos latentes na grande maioria das pessoas. Inconscientes do próprio desequilíbrio, as pessoas se tornam presas fáceis do charlatanismo e posturas autoritárias.
Os psiquiatras nunca foram tão necessários quanto agora, no enfrentamento dessa epidemia de etiologia viral. Quem diria?!
Me chamou atenção também, a postagem da galinha em frente a um espelho e dialogando com sua própria imagem: “ chega de 30 ovos por 10 reais! Se valorize, Beatriz.”
Acho que esse é um bom recado para nós, profissionais de saúde: se não nos valorizarmos agora, por mais que recebamos homenagens dos diferentes setores, não teremos o reconhecimento que merecemos. Em breve estaremos sendo chamados de mercenários - até as galinhas sabem disso.
Essa rodou o Brasil inteiro- “Dia importante: amanhã será a aplicação da segunda dose de soro fisiológico nos empresários de BH”. Esse episódio corresponde a uma das cenas mais patéticas dessa epidemia. Virou caso de polícia, mas expôs também os princípios éticos dos empresários envolvidos. A desonestidade e má fé de braços dados desfilaram em noticiários do mundo inteiro.
Paralelamente, a epidemia matando em média 3 mil pessoas por dia. Nesse caso o castigo foi imediato e tardio. Imediato pela dor de uma injeção de água com sal. Para quem não sabe, dói muito!
Tardio, pelo vexame nacional e incerteza da origem das próprias seringas utilizadas, as quais poderiam contaminadas. Preocupação para os próximos seis meses, no mínimo.
Fantástica a foto de um mosquito da dengue desolado pela perda do emprego-“ após perder seu emprego para o Covid, Aedes é visto fazendo entregas para o Ifood”
Sempre tivemos a epidemia da moda. A dengue saiu de moda. A doença, que nos atormentou ao longo de décadas, ficou no limbo da saúde pública. Junto com ela, ficaram a Febre Amarela, Leishmaniose, infarto, violência urbana, entre outras.
Mas não deixaram de ser um enorme problema. Elas simplesmente saíram da pauta.
Um vídeo de uma pessoa sendo vacinada montada num jegue numa fila de drive thru com os dizeres “só o Brasil tem” chama atenção para o abismo social da nossa sociedade. É engraçado? Sim - se não fosse trágico.