Jornal Estado de Minas

Meio de campo

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Sempre gostei de jogar futebol como meio de campo. Comecei no time do seu Tiãozinho como centro avante. Não funcionou. A bola não chegava nunca para uma conclusão.



Nem com a tática infalível daquele técnico maravilhoso, o qual implantou uma revolução no futebol mundial : "- Ligeireza, marvadeza e gor de cara. Depois nois arrecoi e fica veiaco."

Era uma verdadeira arapuca de ganhar de 1 a zero. O Guardiola deve ter feito estágio com ele! Claro, jamais admitiria a origem do seu sucesso. Muito menos a passagem de seus olheiros pelo monumental Estádio Municipal de Ibiá.

Com o tempo, como um bom técnico, seu Tiãozinho foi me testando no meio campo. Ali sim! As opções de jogada tornavam o jogo plural e emocionante. Fazer o gol era apenas o detalhe final. O importante é como chegar até lá.

Assim, encontrei o meu espaço na vida. Servir. Ser garçom no meio campo da existência.

Ser médico sempre foi um sonho de criança. Brincando no consultório do meu pai, vendo seus livros e observando formigas com lupas, fui aos poucos mergulhando em um mundo maravilhoso.



Levei para a medicina a experiência do esporte da minha infância.

Jogar no meio de campo é bom, mas exige o máximo de quem habita esse espaço do gramado. Ser o elo entre a defesa e o ataque é uma responsabilidade enorme.

Quem entende de futebol sabe: jogo se ganha e se perde no meio de campo. Portanto, os heróis e vilões, na maior parte das vezes, habitam esse espaço.

Transpondo para a medicina, jogar no meio de campo significa trabalhar com o hiato entre especialidades. As infecções fazem essa ligação.

Não há especialidade médica que, direta ou indiretamente, não lide em algum momento com infecção.

A atual pandemia descortinou este espaço do conhecimento. O meio de campo ficou congestionado. Difícil tocar a bola quando o espaço encurta.



É nessa hora que um bom técnico faz a diferença. Colocar as peças nos seus devidos lugares é obra de arte. Coisa que faltou na condução da atual pandemia no Brasil.

Jogar contra um adversário desconhecido exige cuidado, sensibilidade e inteligência. Exatamente o que faltou no atual cenário. Sobrou ignorância, burrice e perversidade.

Faltou elegância e o amálgama do bem! Resultado: 7 x 1 para o vírus. Perdemos o meio campo e, atualmente, quase meio milhão de brasileiros e brasileiras.

Perdemos o chão, queimamos florestas com seus habitantes naturais. Perdemos a compostura e o fio da meada.

Não imaginava que o destino nos reservaria esse desafio.

Lidar com o invisível sempre esteve em nosso universo. Mas, com o imponderável do irresponsável é frustrante.

Sr. Tiãozinho não nos treinou para enfrentar adversário tão imprevisível. Nem mesmo os maravilhosos e dedicados professores que tivemos na UFMG poderiam imaginar tamanho desafio no destino de seus discípulos.

Ainda assim, estamos vivos no jogo. Perdendo, mas com cabeça em pé e olhos no futuro.

Queremos virar esse jogo e correr para o abraço que tanto nos tem faltado.

audima