A coluna de hoje abordará um tema extremamente importante: barbas X máscaras.
Trata-se de uma breve revisão de artigo publicado pela revista Journal of Exposure Science & Environmental Epidemiology, em 22 de Abril de 2021, cujo autor principal é Steven E. Prince.
Este artigo foi resumido e apresentado em destaque pelo Boletim Matinal da UFMG de número 393, sobre a COVID-19, editado pelo meu brilhante colega, o professor Unaí Tupinambás.
A referência original do artigo encontra-se no final do texto, assim como o link para acesso direto a publicação original.
A importância do tema é diretamente proporcional à população de pessoas com barba na comunidade.
Ao longo deste ano pandêmico, recebi inúmeros questionamentos sobre o papel das máscaras em pessoas que usam barba. A literatura sobre o assunto, como vocês podem imaginar, é escassa. Daí, a importância do presente estudo.
Segue o resumo do artigo apresentado pelo Boletim Matinal:
"Avaliação do efeito do comprimento da barba sobre eficácia das máscaras utilizadas contra a COVID-19
As diferentes máscaras utilizadas pela população configuram um modo de prevenção primária contra a disseminação do SARS- COV-2. Contudo, se observa que as máscaras N95 e KF 94 estão mais restritas ao uso por profissionais de saúde, enquanto a população geral tem usado máscaras reutilizáveis de pano.
O desempenho das máscaras faciais varia de acordo com fatores, tanto intrínsecos quanto extrínsecos, estes como o formato do rosto do usuário e tamanho dos pelos faciais, aqueles, como a porosidade e a espessura do material utilizado para confeccionar a máscara.
De acordo com pesquisas recentes, nos EUA e na Inglaterra, significativo percentual dos homens adultos relatou manter barba longa ou aparar esporadicamente, o que impacta no desempenho das máscaras, uma vez que os pelos alteram os pontos de contato das máscaras com o rosto, prejudicando a vedação da peça em relação ao rosto, o que concluiu o Executivo de Saúde e Segurança do Reino Unido e o Instituto Nacional de Saúde e Segurança dos EUA.
Dada a importância do uso de máscaras faciais no combate à pandemia, o estudo analisou a eficácia de filtragem de vários tipos de máscaras em relação ao comprimento dos pelos faciais.
Dez voluntários adultos do sexo masculino foram utilizados para o teste, que foi realizado para uma faixa de tamanho de partículas, em ambiente com determinada umidade e temperatura.
A eficácia de filtração ajustada das máscaras foi observada durante a realização de vários movimentos faciais, incluindo também a leitura em voz alta, com duração de 140 segundos mais 10 segundos entre os exercícios. Foram testadas máscaras N95, KF 94 e uma máscara de algodão.
Cinco voluntários com barbas entre 9 mm e 39 mm que cobriam a mandíbula e a bochecha realizaram o teste. Além disso, dois com diferentes perímetros cefálicos fizeram o teste repetidas vezes com tamanhos de barbas variando de 5 mm em 5 mm e pentes de 3 mm em 3 mm. Além disso, o voluntário 1 utilizou também uma banda de látex sobre a barba. Os outros cinco voluntários com rosto nu utilizaram lâminas descartáveis.
A eficácia de filtração ajustada nas máscaras utilizadas pelos homens com barbas de 9 mm a 39 mm que foram treinados para vestir adequadamente e supervisionados durante o processo não foi significativamente diferente dos barbeados.
A eficácia entre os movimentos nos tamanhos de barbas entre 1,5 mm; 3 mm; 6 mm; 9 mm e maiores que 10 mm foi observada e, curiosamente, a maior foi encontrada quando se lê em voz alta, o que foi atribuído a pressão positiva no equipamento e aos possíveis ajustes da máscara no rosto durante as inalações e movimentações realizadas durante a fala.
Para mais detalhes, a eficácia das máscaras foi observada novamente naquele voluntário que aparou a barba em intervalos de 5 mm, e foi observado que, para até 2,5 mm de comprimento, o equipamento N95 foi o mais eficiente, uma vez que até este tamanho de barba, entregou a eficiência de suas especificações, com redução moderada de eficácia em tamanhos maiores que 10 mm.
Outro estudo europeu revelou que o uso de uma banda de elastômero sobre a barba, sobretudo quando maior que 8,5 mm, eleva a eficácia das máscaras FFP3, as quais são similares às N95 e KF 94."
Em resumo, os adeptos da barba devem ficar atentos. Quanto maior o comprimento da barba, menor é a eficácia das máscaras. Portanto, fiquem com a barba de molho. Todo cuidado é pouco, principalmente com a chegada de mais uma variante preocupante.
Link: go.nature.com/340wGRp
Assessing the effect of beard hair lengths on face masks usedas personal protective equipment during the COVID-19 pandemic Steven E. Prince1 . Hao Chen2 . Haiyan Tong3 . Jon Berntsen4 . Syed Masood5 . Kirby L. Zeman6 . Phillip W. Clapp6,7 . William D. Bennett6,8 . James M. Samet3 Received: 25 January 2021 / Revised: 14 April 2021 / Accepted: 22 April 2021