Jornal Estado de Minas

Pandemia

O mágico e o real

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Confrontar a realidade é sempre mais difícil do que sonhar. O desejo de, do dia para noite, se transformar em um milionário, alimenta os cofres públicos com os jogos de azar, cujo principal bookmaker é o próprio Estado.



Da mesma forma, diante de uma doença grave, recorrer a soluções milagrosas é uma tentação que alimenta o cofre de charlatões.

Conhecemos essa mesma história com o câncer, AIDS, hanseníase, tuberculose, diabetes, etc.

Nessa pandemia, o desespero levou milhares de pessoas a recorrer a medicamentos sem eficácia confirmada, assim como profissionais sem escrúpulo usufruem da angústia alheia.

O pensamento mágico exige soluções fáceis, mas não inócuas. A ideia de que pior do que está não pode ficar, em ciência não funciona. Os efeitos colaterais dos medicamentos e o atraso na adoção de medidas adequadas para resolver o problema podem ser mais fatais que o próprio vírus.

Caminhamos nesse momento para 600 mil mortos pela COVID-19, e as soluções fáceis e mágicas alimentam, cada vez mais, o desejo de normalidade sem sacrifícios.

Queremos vacinas 100 % eficazes que nos livrem do desconforto das máscaras, para amanhã, sem falta!

Confesso que esse também é o meu desejo. Mas, a realidade é outra e temos que enfrentá-la sem subterfúgios e promessas enganosas.



O vírus veio para ficar. Em princípio, temos que nos adaptar a ele. Com o avanço do conhecimento científico, nós o dominaremos e passaremos a conviver com ele, assim como já convivemos com várias outras doenças. Porém, sempre em busca de uma solução definitiva.

Entretanto, com menos de 15% da população mundial vacinada, com as desigualdades sociais geradoras da miséria e a hipocrisia de políticos populistas, não tenho dúvida de que o caminho será longo e penoso.

O choque de realidade provocado pela COVID-19 é um dos seus principais legados.

O sofrimento que adentrou-se nas nossas casas e nas nossas vidas é fruto da alienação na qual estamos imersos.

Ligamos o "foda-se" para o mundo. Achamos que não há um preço a pagar e sempre haverá uma solução mágica para nos salvar. Doce ilusão!

As perguntas que me chegam aos montes, pelos mais diferentes interlocutores, são um bom exemplo.



Teremos carnaval e réveillon? Sim, mas com vacina, máscara (vale a criatividade), distanciamento social (sem beijo em massa) e sem aglomeração. Não é possível?! Reinvente-se!

Se eu fizer tudo isso é seguro? - Claro que não! Se não existe pecado do lado de baixo do Equador, segurança muito menos.

Se eu tomar duas doses de vacina eu não morro? - Vacina não te transforma em vampiro. Vampiro é que não morre. Você é mortal. Não há vacina 100% eficaz para nada. Muito menos para te transformar em vampiro.

Quando ficaremos livres das máscaras? - Quando ficarmos livres do vírus. Quando ficaremos livre do vírus? - Quando usarmos máscaras, tomarmos vacina, evitarmos aglomerações, lavarmos as mãos, investirmos em ciência e, de fato, praticarmos o amor ao próximo.

Mas, assim está muito difícil! - Não! Está em nossas mãos.

Lembre-se da fábula da cigarra e da formiga. "A formiga, com ódio da cigarra, votou no inseticida. Morreram todos, inclusive o grilo que votou nulo." Não entendeu?! É por isso que a pandemia ainda vai durar muito tempo.

As soluções mágicas são mágicas. Não são reais.

Acorde e faça a sua parte!



audima