Caro leitor, peço desculpas antecipadas pelo exemplo inicial dessa coluna, mas a contundência é necessária quando o tema se relaciona com as consequências da nossa própria estupidez.
Um arroto dentro da máscara e um pum debaixo do cobertor com a cabeça coberta se equivalem. Nós, vítimas de nossa própria putrefação.
Eleger imbecis e esperar deles atitudes geniais, se equivale a esperar que nossos putrefatos gases tenham o aroma de em perfume Chanel número 5.
Da mesma forma, ter atitudes irresponsáveis durante a pandemia e esperar queda da incidência e da mortalidade é ilusão e autoengano.
Ao longo dos últimos dias, a sensação que tenho é que as pessoas estão achando que a pandemia acabou. Apesar da redução do número de casos e óbitos na maioria dos estados do Brasil, a variante Delta do SARS-CoV-2 vai rapidamente dominando o mundo ultramicroscópico.
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O cheiro de DeusO mágico e o realOs ipês do Olimpo O criador de bodesLiberdade se conquista com inteligência, compromisso e maturidadeEntretanto, nada se fala de medidas de distanciamento, uso de máscaras e atitudes responsáveis. É como se todos tivessem aceitado a garupa na motocicleta do Messias.
Doce e ingênua ilusão epidemiológica.
Com menos de 30% da população com duas doses de vacina, a variante Delta não baterá delicadamente à nossa porta. Pelo contrário, penetrará casa adentro como se fosse parte da orgia em que se transformou a condução da epidemia no país.
O que observamos em outros países sempre foi a nossa realidade pouco tempo depois. Não temos nada diferente dos demais seres viventes desse planeta, exceto nosso jeito carnavalesco de ser.
Vacinas sem atitudes responsáveis é autoengano. Miragem e expectativa mágica de quem apodrece no poder, que já passou da hora de cair e continua exalando o seu hálito pútrido, recheado de agressões contra as estruturas garantidoras de nossa democracia.
Pelas projeções atuais, para chegarmos perto de nossas vidas "normais", precisaremos de mais de 80% de toda população completamente vacinada e eventualmente, revacinada.
Importante: as máscaras vieram para fazer parte de nosso adorno facial por um longo período.
Vacinas mais eficazes e que contemplem as variantes virais, resultantes de nossas atitudes delirantes e irresponsáveis, serão necessárias.
Tratamentos eficazes e cientificamente validados poderão amenizar e reduzir a angústia de não sabermos o desfecho do nosso encontro com o vírus. Porém, para termos acesso às novas tecnologias, encontramos uma outra poderosa barreira - a Agência Nacional de Saúde (ANS) e o lobby das operadoras de planos de saúde. Algumas operadoras ignoram até mesmo a ANS e seguem regras próprias, como se estivéssemos numa terra sem lei.
Mais uma vez, nós vítimas de nós mesmos.
Sucateamos o SUS e várias outras instituições construídas com o nosso suor durante anos e abrimos mão de um patrimônio nosso, absolutamente fundamental para o enfrentamento dos grandes problemas de saúde que teremos pela frente.
O resultado foi que nos tornamos escravos de grandes corporações de princípios éticos questionáveis e direcionados quase exclusivamente ao lucro, a despeito da vida e dignidade humana.
A engrenagem dos tempos modernos nos obnubilou a alma. O vírus nos roubou o olfato e o paladar. O mundo insípido e inodoro nos remete ao Tártaro e ao Caos, onde o submundo de Hades nos parece um paraíso distante e, ao mesmo tempo, docemente cruel.
Nós, vítimas de nós mesmos e das nossas escolhas.