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Bolsonero & Queirodes: a dupla mais letal da nossa história

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Os dados nacionais mostram que morre uma criança por COVID-19 no Brasil a cada 24 a 48 horas. O risco de uma criança morrer por COVID no nosso meio é 10 a 15 vezes maior que nos EUA e Reino Unido, respectivamente.



Trata-se da principal causa de óbito por doença infecciosa imunoprevenível no Brasil.

Pois bem, a dupla mais letal do planeta “Bolsonero & Queirodes” resolveu fazer uma consulta pública que deve atrasar em quase 2 meses a imunização dessa faixa etária no Brasil.

Assim, nesse período, ocorrerão 30 a 60 óbitos de crianças, completamente evitáveis.

A “dupla” será responsabilizada criminalmente por isso?! Se depender da PGR - Procuradoria Geral da União, pouco provável. Mas, os pais que vierem a perder suas crianças têm todo direito de fazê-lo.

O negacionismo e o atraso na vacinação no Brasil fez milhares de vítimas em 2021 e, pelo jeito, continuará fazendo em 2022. 

Consulta pública para vacinar é tão absurdo quanto pedir a minha opinião (sou médico) sobre o funcionamento de foguetes espaciais, ou mesmo, sobre o “simples” funcionamento de uma turbina a jato de um avião.





A minha opinião nesses assuntos certamente seria  um desastre para a indústria aeroespacial. 

Pois bem, é exatamente a mesma coisa que está acontecendo no Brasil com a consulta pública sobre vacina contra COVID-19. Estão pedindo a opinião de leigos sobre um assunto extremamente técnico, que poucos cientistas têm condições de opinar.

Vamos aos fatos, muito bem detalhados pelo meu colega André Kalil, da Universidade de Nebraska dos EUA. A “controvérsia e a arrogância” estão sendo criadas e amplificadas pela desinformação.

O fato é que não há controvérsia nem arrogância sobre a informação científica acurada que já temos em mãos sobre a vacinação pediátrica para prevenir COVID-19: esta vacina foi testada rigorosamente em ensaios clínicos randomizados, controlados com placebo, duplo-cegos, fases 1, 2, 3, e demonstrou alta segurança e eficácia de 91%. 





Depois dos estudos terem sido completados, os dados foram revisados, re-analisados, e verificados independentemente pelos técnicos do FDA- Food and Drugs Admnistration e, posteriormente, revisados novamente  por um comitê de especialistas externo ao FDA. Ambos votaram para a aprovação da vacina pediátrica contra COVID-19.

Depois disso, o CDC- Centes for Deseasis and Prevention, o ACIP- American Academy of Infectious in Pediatrics (outro comitê de especialistas externos ao CDC) revisaram e aprovaram os dados. 

Assim sendo, o governo americano aceitou a decisão científica do FDA, CDC e dos outros dois comitês externos e, prontamente começou uma campanha enorme de vacinação com o objetivo de oferecer e facilitar o acesso de todas as crianças vulneráveis à vacina pediátrica contra a COVID-19. 

Até o  momento, mais de 7 milhões de crianças já foram vacinadas nos EUA e o CDC continua monitorando e confirmando a segurança e efetividade desta vacina. Nenhuma criança foi a óbito pela vacina, a maioria dos efeitos colaterais foram leves e transitórios, e nenhum efeito colateral foi mais frequente ou mais severo que os efeitos da infecção com o SARS-CoV-2.





Além disso, todas as sociedades médicas pediátricas e de infectologia americanas, sem exceção, também reavaliaram os dados dos estudos, cada uma com seus comitês de especialistas, e concordaram unanimemente com a recomendação da vacina pediátrica. 

Importante lembrar que todos estes comitês que citei acima foram compostos de equipes multidisciplinares (infectologistas, epidemiologistas, virologistas, imunologistas, farmacêuticos, enfermeiras e especialistas de várias outras áreas), o que é muito relevante para que sejam feitas recomendações mais precisas e de maior benefício à população numa situação complexa como a pandemia.

A controvérsia (falta de dados/rapidez demais = fake news), e a arrogância (negar/dificultar a vacina a crianças vulneráveis quando a evidência científica já demonstrou segurança e efetividade em milhões de crianças) são produtos da desinformação.





Não há controvérsia nem arrogância sobre a informação científica acurada de que a vacina pediátrica é segura e efetiva, previne hospitalizações e mortes por COVID-19, além de evitar a COVID longa que tem afetado milhares de crianças e comprometido a educação e participação escolar. 

Essa é a informação científica verídica que precisa ser comunicada com transparência aos pais para que eles tomem uma decisão informada para o maior benefício das suas crianças.

Outro brilhante colega e especialista em vacinação, Renato Kifouri completa:

“Os critérios para introdução de uma vacina num programa público não se resumem ao número de mortes relacionadas à doença contra a qual se deseja uma intervenção. Por exemplo, gripe, diarreia por rotavírus, varicela, hepatite A, entre outras doenças, faziam menos vítimas do que a COVID-19 em pediatria e não hesitamos em recomendar a vacinação contra todas essas doenças. 





Vacina-se para prevenir hospitalizações, sequelas, uso de antibióticos, visitas aos serviços de saúde, ocupação de leitos em UTI, óbitos, entre outros. 

Além de tudo isso, o aspecto da proteção indireta, reduzindo casos secundários é sempre considerado. Acho que temos justificativas éticas, epidemiológicas, sanitárias e de saúde pública que justificam a vacinação da população pediátrica, desde que, claro, com vacinas que demonstrem segurança e eficácia comprovadas por nossa agência regulatória.”

Interessante, não vi qualquer manifestação de grupos de pais, professores e de escolas públicas e privadas para que a vacinação das crianças seja feita o mais rápido possível.

Me causa espanto esses grupos não estarem fazendo buzinaço na porta do Ministério da Saúde e do Palácio do Planalto! Afinal, o que garantirá a permanência das escolas abertas em 2022 é a vacinação de seus filhos e alunos. Será por que isso não está acontecendo?!

Pai que não se preocupa com a vacinação de seus filhos é negligente e o coloca em risco. País negligentes deveriam ter a guarda dos seus filhos questionada na Justiça. 



Bolsonero ao declarar publicamente que não vacinará a sua própria filha de 11 anos, deveria ter a guarda da filha questionada judicialmente.

Além do péssimo exemplo para o país que tem o legado de um PNI,  que tem sido alvo de desmonte (o que por si só, deveria ser objeto de impeachment por crime contra a saúde pública), o Messias mais uma vez atesta o seu desprezo pela ciência, escancarando sua arrogância e despreparo para estar à frente de uma das maiores economias do planeta, a qual ele também está destruindo, exatamente pela mesma postura negacionista, cujo legado é a maior tragédia humanitária da nossa história. Mais 630 mil mortes. 

Não satisfeitos, a dupla mais funesta da nossa história, “Bolsonero & Queirodes”, quer agora bater o próprio recorde, ampliando a sua letalidade com um infanticídio infeccioso plenamente evitável.

audima