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CARLOS STARLING

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O ônibus da Gontijo saia da rodoviária de Belo Horizonte para Ibiá às 17h em ponto.

Viajar de União era pegar carona.

Gostávamos mesmo era do Gontijão.

Passagem comprada, e já dentro do ônibus já estávamos no nosso quintal. A Avenida Amazonas era apenas uma extensão da Rua Vinte. Era só seguir direto. Apesar da Serra de Luz, uma reta só.





Dentro do ônibus até os puns eram conhecidos. Sabíamos quem era pelo odor.

Estávamos em casa.

Risadas altas e familiares abriam caminho para o útero que nos esperava.

Na cozinha do Gontijão rolava de tudo. Cerveja, samba e piadas repetidas, mas sempre novas.

Amigos de infância voltando para cada.

Chegávamos sempre por volta das 9 da noite, quando a cidade ainda fervia nas noites de dezembro, véspera de Natal 

Foi numa dessas viagens que desembarquei em plena praça São Pedro louco para vê-la.

Ela me esperava no bar do Bené , em frente a minha antiga casa, onde vive a infância, não muito distante desse dia.

Nos encontramos e vivemos um momento único. Ela me deixou na casa de um amigo e nunca mais a vi com vida.





O breu se fez...

Meu vinte e três de dezembro sempre terá a dor daquela noite.

Me lembro do olhar da mãe e das lágrimas e soluços do pai.  Filhos não são feitos para serem perdidos. 
Eu não sabia onde ancorar a alma.

Não me esqueço do amparo do meu avô: – Só o tempo, meu filho. Só o tempo, abranda. Não apaga, mas  abranda.

Hoje, mais de 40 anos depois, ainda lembro daquela noite.

Gostaria nunca ter vivido aquele pesadelo.

Dia 23 de dezembro, nunca foi concluído. 

Tudo pode acabar a qualquer momento. 

Assim é a nossa viagem.

Havia um poste no caminho. No meio do caminho havia um poste.

Acordei.