Enganam-se os que pensam que o Boletim Popular diz respeito apenas a dados estatísticos, números frios e sem sentido histórico.
O número aqui ,tem significado especial.
Aqui, número chora, é de carne, osso e lágrimas. Os números somos nós dentro de um mundo desigual e injusto.
Aqui, o número é você, meu pai, sua mãe, sua avó, nossos filhos e amigos. Quem gostamos e quem não conhecemos e não tivemos oportunidade de amar, mas amamos, mesmo de longe.
Número que faz a roda rodar e a vida ser alegre ou triste. Números que nascem, morrem, riem e choram.
Por isso, sonegar e falsear dados é também matar pessoas. Crime hediondo e genocida que tanto vimos acontecer ao longo dessa pandemia do Brasil de Messias.
A epidemiologia conta a história das nossas vidas, no passado e presente.
Revela o rumo e a estrada que nossos pés decidiram trilhar.
O futuro é dependente da maneira com que encaramos a realidade no passado e no presente.
Se optamos pelo negacionismo e pela injustiça, colheremos um sofrimento pandêmico prolongado e penoso.
Os dados do Boletim Epidemiológico desta semana mostram uma tendência de estabilização epidemiológica ainda num platô elevado de 445 pessoas infectando para cada 100 mil habitantes em Belo Horizonte. O vírus ainda circula de forma intensa na cidade, pressionando os serviços de saúde, principalmente na faixa etária pediátrica abaixo de 5 anos, onde a estrutura assistencial é frágil e as crianças ainda não foram vacinadas.
A vacinação desse grupo etário é absolutamente fundamental, assim como a complementação da vacinação com a dose de reforço das demais faixas etárias.
Graças à vacinação, a demanda por terapia intensiva tem se mantido estável e a mortalidade, apesar de quase 7 vezes maior que no princípio de Junho, ainda está longe do que esteve em 2021, quando a vacinação era insipiente.
Porém, 21 óbitos por milhão de habitantes tendo como causa uma doença evitável por vacina é um número inadmissível. Ainda mais absurdo é ter mortalidade média de mais de 300 pessoas por dia no Brasil.
Ainda assim, uma das perguntas que mais frequentemente nos fazem é quando a pandemia irá acabar. Como dizia Pedro Nava, “a experiência é um farol virado para trás”. Assim, também é a epidemiologia.
Somente saberemos que a pandemia terminou olhando para trás e vendo dados em níveis baixos por um determinado período de tempo, ainda não conhecido. Até lá, é manter os pés no chão, vacinação em dia e medidas de barreira básicas, das quais conhecemos muito bem a eficácia.
Ter dados epidemiológicos estabilizados em níveis elevados não é nada confortável, principalmente com variantes altamente transmissíveis e letais para não vacinados.
Se o mundo distribui a riqueza de forma desigual, a natureza responde a altura.