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Varíola dos macacos

Há um grande desafio em mais essa emergência de saúde pública. Existe a oportunidade para fazer diferente do que tem sido feito para o controle da COVID-19


06/08/2022 07:48

Vírus da varíola dos macacos
(foto: Getty Images)

O mundo viu estarrecido e incrédulo o aparecimento de outro surto de doença infecciosa no segundo ano da pandemia de COVID-19.

A varíola dos macacos não é doença nova. Os primeiros casos em humanos foram diagnosticados em 1970 onde hoje é a República Democrática do Congo, na África. O vírus foi isolado pela primeira vez em 1958 em macaco, daí o inadequado nome de varíola dos macacos, pois os verdadeiros reservatórios iniciais seriam roedores. A OMS avalia renomear a doença para evitar estigmas e preconceitos contra países e regiões, como aconteceu no surto de febre amarela em 2017.

Até 2022 os casos estavam concentrados nas regiões ocidentais e centrais da África e aqueles relatados em outros continentes foram diagnosticados em pessoas que tinham visitado esses países ou tiveram contato com animais silvestres contrabandeados dessas regiões. Pela primeira vez há transmissão sustentada fora do continente africano e, até o final de julho de 2022, tinham sido confirmados 23.351 casos em 83 países com oito óbitos.

Em comparação com os casos de COVID-19, esses números podem parecer insignificantes, mas vale acentuar que o potencial para se tornar grave crise de saúde pública mundial é real e a OMS, em 23 de julho de 2022, já declarou esta condição como de Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional.

A vacina contra a varíola, que foi utilizada rotineiramente até final dos anos 1970, confere proteção de até 85% contra a varíola dos macacos. Por essa razão, a grande maioria dos casos recém-relatados são em pessoas com menos de 40 anos.

As formas de transmissão do surto atual são:

- Por contato próximo prolongado com pessoa com manifestações da infecção. Geralmente envolve contato pele a pele, com feridas ou com as crostas (contato domiciliar ou serviços de saúde);

- Por meio de gotículas respiratórias;

- Por contato com fluidos orais durante o contato sexual (beijo, sexo oral);

- Por contato com tecidos, objetos ou superfícies contaminadas com o vírus da varíola dos macacos (roupas de cama ou toalhas).

O R0 da varíola dos macacos está em torno de 1 e, como anotado acima, os mecanismos de transmissão são diferentes da COVID-19, onde a via principal de transmissão é por via aérea. No surto atual a transmissão através do contato íntimo (pele) durante o sexo foi responsável até agora por mais de 95% dos casos e, embora o vírus tenha sido isolado no sêmen, ainda não é possível afirmar que é uma infecção sexualmente transmissível (IST), ou seja, transmitida através de fluidos genitais.

Os casos, nesse momento, foram diagnosticados principalmente em homens que fazem sexo com homens, gays ou bissexuais. É possível que essa concentração inicial esteja relacionada com o fato de que esta população sempre teve mais cuidados com a saúde sexual e procura mais os serviços especializados.

No "quadro clássico" da varíola dos macacos, a transmissão ocorre apenas através de contato com pessoas sintomáticas, e até agora não se sabe o papel das pessoas assintomáticas ou oligossintomáticas na cadeia de transmissão.

E, diferente do "quadro clássico", as lesões, que na sua grande maioria ocorrem na região ano-genital, podem não ser precedidas de febre e letargia. Entre as razões para internação incluem-se o manejo da dor local (anal) ou para tratamento de infecção bacteriana secundária.

O diagnóstico é realizado apenas através biologia molecular (RT-PPCR), pois ainda não estão disponíveis testes sorológicos ou testes rápidos. Assim, nesse momento há que se ampliar os critérios para casos suspeitos, o que facilitará o acesso a exame confirmatório e diminuirá o risco de transmissão.

A vacina contra a varíola dos macacos já foi aprovada, mas a produção ainda é insuficiente, o mesmo acontecendo com os antivirais (tecovirimat e o cidofovir).

Como o ebola, a varíola dos macacos foi negligenciada quando estava limitada a países em desenvolvimento na África e só ganhou notoriedade quando atingiu a população majoritariamente branca dos países Europeus e da América do Norte.

Vale enfatizar que é um grande erro associar a doença a populações específicas ou a orientação sexual. Como a Aids e a COVID-19, ninguém está imune à infecção pela varíola dos macacos, embora aqui também as populações socialmente mais vulneráveis geralmente têm mais dificuldade de acesso aos necessários cuidados de saúde.

Assim, também nessa nova crise, será necessária uma postura firme e clara contra qualquer tipo de preconceito, discriminação ou estigma e o estabelecimento de canais de informação, atendimento e diálogo com as populações mais vulneráveis para assegurar que os erros que foram cometidos no enfrentamento da Aids nos anos 1980 e 1990 nunca mais sejam repetidos.

As autoridades sanitárias têm a obrigação de estabelecer um plano robusto para seu enfrentamento, que inclui acesso e disseminação de informação baseada na ciência acessível à comunidade e às equipes de saúde.

Há um grande desafio em mais essa emergência de saúde pública, que além de reforçar a necessidade de financiar adequadamente o SUS para este enfrentamento, reforça a existência de uma janela de oportunidade para fazer diferente do que tem sido feito para o controle da pandemia da COVID-19.

*Esse texto foi o Editorial de 05/08/2022 do Boletim do Comitê Popular de Combate a COVID-19 de Belo Horizonte.

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