A primavera chegou nessa quinta-feira (22/9), às 22:04 ( horário de Brasília), para a maior parte do território brasileiro. Entretanto, para os estados do Norte, chegou atrasada, assim como, o oxigênio e a esperança.
Do Norte para o Sul, desce o sinal de fumaça. Pedido de socorro da floresta em chamas. Nossa atmosfera cinza é o alerta de que futuras gerações estão em risco, tal qual os animais desesperados que hoje fogem do fogo criminoso e assassino.
Quando criança, achava que primavera era uma parente que nunca chegava, apesar de existir. Afinal, todos diziam que ela logo chegaria carregada de flores e cores.
Certamente, deveria ser uma prima alegre, de roupas coloridas e que tocava piano. O tempo passou e a prima não veio.
Primavera significa, do latim, primeiro verão. O seu início, chamado Equinócio de Primavera (equi, igual e nocio, noite) é um fenômeno astronômico, em que o dia e a noite tem a mesma duração, equilíbrio entre luz e treva.
O momento atual que vivemos no Brasil é literalmente uma primavera. A pandemia com uma incidência de casos e óbitos nos níveis mais baixos que já tivemos e a perspectiva de mudança no planalto, o que eu chamaria de primavera perfeita.
A primavera perfeita significa a chance de resgatarmos a nossa dignidade como brasileiros perante a nós mesmos e o mundo. Sair das trevas para a luz. Do discurso de ódio para a busca intransigente da paz e justiça social.
Merecemos tempos melhores. As flores que explodem em cores na primavera são o símbolo do amor e da harmonia que caracterizam a natureza primordial; a flor identifica-se ao simbolismo da infância e, de certo modo, ao estado edênico. Trata-se da minha primavera batendo na porta de cada um de nós. Ilusão de tempos melhores que nos move do berço ao suspiro final.
Associadas analogicamente às borboletas, tal como elas, as flores representam muitas vezes as almas dos quase 700 mil mortos pela pandemia em nosso país, os quais espero que renasçam na consciência de todos os brasileiros no momento de decidir sobre o nosso destino enquanto nação.
Tempos difíceis exigem sensibilidade e sabedoria. Se o "amai-vos uns aos outros" é tão utópico quanto o Éden, pelo menos tentemos o "respeitai-vos uns aos outros".
Afinal, precisamos viver a primavera de 2023, que começará no dia 23/09/2023 às 03:50 h e por que não a de 2024 que desabrochará no dia 22/09/2024, às 04:44 h.
As primaveras são eternas. Nós, borboletas.