O Tremendão desembarcou. Assim como a Gal, o Jô e tantos outros belos artistas que permearam nossas vidas e se foram em 2022.
Erasmo nos deixou "à beira do caminho" com lágrimas nos olhos e uma saudade eterna.
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O navio fujãoMundo ligeiro, o revólver e a flor de maracujá O balbucio do MessiasBoas festas, com ou sem COVID-19Na medida em que retomamos à "normalidade" com a ideia de que "o pior já passou", a vacinação caminhou ladeira abaixo. Caiu ainda mais após a declaração do "fim do estado de emergência" pelo atual ministro da Saúde.
O pior não passou: o pior é naturalizar um vírus com enorme capacidade de adaptar-se, principalmente à nossa displicência.
Hoje, com vacina sobrando nos postos de saúde, vacinamos menos do que no princípio de 2021, quando "vacina no braço" era motivo de festa e lágrimas de felicidade.
No ritmo que vacinamos hoje, demoraríamos 1.232 dias (3,3 anos) para vacinar 85 milhões de habitantes que não tomaram a primeira dose de reforço.
As informações confusas e até mesmo antagônicas vindas do Planalto não esclareceram a população que as vacinas eram fundamentais para evitar as formas graves e letais da doença, assim como o colapso do sistema de saúde. Entretanto, as infecções assintomáticas e a circulação viral continuariam a despeito das vacinas.
No princípio de 2022, a situação piorou com a chegada da variante Ômicron.
A princípio encarada como uma variante "mais fraquinha" do vírus, alimentou a cruel teoria da imunidade natural como estratégia de controle da pandemia.
Retirou-se das vacinas o mérito do controle da catástrofe sanitária que vivíamos, passando para a benevolência viral a responsabilidade pelo desmonte das terapias intensivas abertas às pressas no período anterior.
A Ômicron, desafiando a imunidade conferida por vacinas e infecção natural, continuou gerando milhares de casos, óbitos e, principalmente, Síndrome Pós-COVID ou COVID-19 longa, a qual acomete cerca de 20% dos infectados, mesmo por formas brandas.
Em linguagem comum e simples: quem se infectar pela Ômicron precisa entender que a infecção por essa variante, ou qualquer outra, não gera imunidade protetora duradoura. No máximo por seis meses ficamos protegidos contra formas graves, as quais geram hospitalização e óbito.
Porém, apostar em imunidade natural é cruel e um enorme risco.
Além disso, infecções repetidas pela COVID-19 aumentam a chance de complicações sérias, como embolias, infarto do miocardio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal e doenças auto-imunes.
Num cenário de variantes mais transmissíveis, a solução para reduzir o risco de infecção e suas complicações, além da vacinação em dia, é o uso de máscaras, higienização das mãos e distância das aglomerações e pessoas infectadas. Por isso testes e isolamento continuam sendo extremamente importantes.
Mesmo com as vacinas de "segunda geração", ou "adaptadas", a expectativa continua sendo de proteção contra hospitalização e óbitos.
Até termos acesso ás vacinas bivalentes, as vacinas disponíveis possuem vantagens suficientes para justificar o seu uso.
O novo governo deve retomar de modo urgente a campanha de vacinação contra a COVID-19 e a todas as outras doenças evitáveis por vacinas. Os problemas estão diagnosticados pela comissão de transição. Devemos e podemos, em 2023, superar a polarização e a hesitação vacinal.
O enfrentamento desse desafio passará obrigatoriamente por órgãos de controle e de segurança. Mentir e enganar contra a saúde pública é crime. A criação, divulgação e a disseminação de informações falsas sobre vacinas podem ser enquadradas em pelo menos oito artigos do Código Penal Brasileiro.
Precisamos do Brasil vacinado, principalmente contra os falsos Messias, que nos mostraram o caminho oposto daquele que deveríamos ter seguido e nos deixou à beira do caminho e à margem da história, com mais de 700 mil mortos, dos quais, cerca de 500 mil seriam evitáveis.
*Parte desse texto foi retirado e inspirado em publicação do Twitter do Dr.Nesio, pelo qual tenho profunda admiração e respeito. https://twitter.com/dr_nesio/status/1594424420814229504