Filmes com zumbis estão na moda. Vampiros sempre fizeram sucesso no cinema. Drácula e Frankenstein eram o máximo quando eu era menino. Entrávamos para o cinema do Sr. Rogério, o Cine Brasil de Ibiá, com o coração na mão e fechávamos os olhos nas cenas mais tensas. Hoje esses personagens não fazem nem cosquinha.
Há poucos dias recebi uma oferta de dez séries de zumbis para assistir no Netflix. Tentei assistir a The Last of Us. Uma hecatombe provocada pela disseminação de um fungo que transformava as pessoas em mortos vivos violentos. Não consegui terminar.
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Os sete prazeres capitaisSr. DiA(o) merdaPós-pandemia?! Será?!!Ele voltou!A única forma de não morrer é ver JaneirosBoas lembranças de Guido Carnaval 2023Fui levar a minha filha no aniversário de uma colega. Chegando lá, vi uns 15 adolescentes sentados em locais separados. Cada um com seu celular na mão e incomunicáveis. Ou melhor, se comunicavam pelo celular com os que estavam no mesmo local. Zumbis?!
Cheguei para uma reunião no hospital e a cena se repetiu. Todos com celular na mão, calados e trocando mensagens. Tentei chamar a atenção para o café com pão de queijo quentinho que acabara de ser servido. Nada!
Tentei uma frase de efeito: - Sabiam que celular tem mais bactéria que tampa de privada?! Nem ligaram.
Pareciam estar fazendo prova de vestibular on-line. Zumbis?!
Vendo e revendo as cenas do dia 8 de janeiro no planalto, impossível não correlacionar com uma invasão zumbi do The Walking Dead. Seres possuídos pelo ódio destruindo tudo que viam pela frente em verdadeiro transe hipnótico. Zumbis reais teleguiados por forças distantes.
As cenas de destruição do território Ianomâmi com pessoas desnutridas ao extremo e consumidas pela barbárie me assustam mais do que qualquer série de zumbi. Me aterroriza a crueldade dos que permitiram e incentivaram esse genocídio. Obra de líder zumbi camuflado de turista no hemisfério norte.
As cenas que vimos em Manaus, de pessoas desesperadas correndo atrás de balão de oxigênio e enterrando seus mortos em valas comuns, é mais aterrorizante que qualquer filme de zumbi. Quem não se assusta com as imagens já virou zumbi e não se enxerga no espelho. Aliás, zumbis não gostam de espelho e geralmente são cegos ou surdos ou mudos. Qualquer semelhança com alguém que conhecemos não é mera coincidência.
As imagens de guerra que estamos vendo todos os dias na Ucrânia e Síria, com pessoas correndo de bombas que lhes caem sobre a cabeça, me lembram cenas de Black Summer. Um apocalipse zumbi, onde estranhos se unem para sobreviver e voltar para aqueles que amam. Para piorar, a terra treme e torna o caos ainda mais terrível.
Em todas essas situações, o olhar das crianças em campos de refugiados e as mães Ianomâmi com seus filhos moribundos no colo é a realidade de um mundo cruel e violento. Mundo de zumbis.
Mas, o carnaval já começou e está logo ali na esquina.
Zumbi eu, zumbi tu, zumbi nós. Um zumbi cheira o outro.