Caros leitores, tenho que confessar-lhes uma coisa. Cansei de falar de COVID.
Após três anos enfrentando esse vírus maldito, preciso voltar para a poesia. Minha alma carece do bálsamo e da liberdade que a poesia nos oferece. O devaneio poético é uma necessidade fisiológica como outra qualquer. Goste ou não o leitor, a poesia é combustível para a alma de quem escreve.
Por isso, convido-os a passear pelo "Um breve adeus" e "As minhas mulheres". Esta última, uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Um breve adeus
A única forma de não morrer é ver Janeiros
Janeiros demoram, custam caro e são inevitáveis para os sobreviventes.,
Tropecei em minhas próprias pernas e ralei o joelho em cimento crespo.
A dor é a de um mundo cruel que tortura com água feridas frescas
Não há perdão para desertores da existência. Aqui, é lugar de dor e sabor.
Escolha a fruta e deguste seu amargo até o final.
Torpes desejos,
Breves prazeres, agarre-os com unhas de tamanduá bandeira.
Desejos torpes fazem parte do cenário e do enredo.
Segredos escondidos,
Verdades da alma.
Só há perdão para quem fica.
Quem foi, foi...
Dei-lhe um breve adeus,
Fechei os olhos e adormeci.
Vida que segue.
As minhas mulheres
Sou metade mulher.
XY -homem, metade mulher.
XX -mulher, metade homem.
Conclusão, somos assim.
Diferentes anatomicamente e fundamentalmente iguais.
Demorou para que eu me soubesse.
Maria me pariu num dia 20.
Só descobri Maria no dia em que ela partiu.
Antes era: - Mãe, cadê meu tênis branco?!
Assim, saí reproduzindo vida adentro o que seria ser homem.
Estupidez atrás de estupidez.
Certo dia acordei rodeado por quatro filhas e me descobri mulher.
Aí sim, me descobri homem.
Ser capaz de amar e digno de ser amado.
Homem é homem quando se descobre mulher.