Em toda empresa, há um bonzinho. Trata-se daquele ser irritantemente contido e obediente. Se a maioria concorda, ele é incapaz de emitir opinião contrária, mesmo que repudie tudo o que está sendo explanado. Aliás, o bonzinho é incapaz de refutar. Dono de um autocontrole (ou cinismo?) que beira o masoquismo, ele passa as reuniões acenando positivamente – com a cabeça – para tudo o que o chefe fala. O bonzinho nunca expressa opiniões DE MAIS, MAS DE MENOS.
Sim. Escrevi DE MAIS separadamente. Essa locução significa A MAIS, ALÉM DO DEVIDO. Ao bonzinho, cabem tarefas DE MAIS – afinal, ele é bonzinho – e opiniões DE MENOS. Um bom macete: o DE MAIS sempre se opõe ao DE MENOS.
Por isso ele é o protegido nas empresas: não cria desavenças com os DEMAIS (esse DEMAIS significa OS RESTANTES) funcionários, tampouco gera contratempos para a chefia. O bonzinho é bacana DEMAIS! Ou seja: o bonzinho é MUITO bacana!!! Temos, no último demais, a ideia de EXCESSO. Ah, esse bonzinho...
A antítese do bonzinho é o foda: ao contrário do bonzinho, o foda é agressivo. Questionador, coleciona inimigos explícitos e ocultos. Mas ele nem liga... Aliás, o foda quer mesmo é saber de resultados. E sempre diz que água morna não serve nem pra fazer chá. Dotado de uma força hercúlea, o foda resiste às intempéries bravamente, cria soluções inimagináveis e torna-se praticamente insubstituível. O foda é DEMAIS!
A esta altura do texto, você já fez uma autoanálise para saber se está mais para o bonzinho ou para o foda, não é mesmo? Mas o que seria das empresas se todos decidissem ser como o foda? Ou como o bonzinho? Não daria certo, daria? Todavia, entre um e outro, sempre é melhor ser o foda. Sabe por quê? Porque, justamente pelo fato de o bonzinho ser bonzinho, ele fica parado onde está, tornando-se um mantenedor da paz corporativa. E o foda? Ah, o foda esforça-se DEMAIS, corre riscos DE MAIS e ultrapassa os DEMAIS. Ele é mesmo foda!
Cíntia Chagas,
Beijos!
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