Certamente você já ouviu falar que feministas são mulheres raivosas, radicais, que odeiam os homens e que querem acabar com a família. Eu sinto muito em dizer que você foi enganado.
O mundo em que vivemos se sustenta em alguns pilares e o machismo é um deles. O capitalismo é fundamentado na divisão social do trabalho. É esse conceito que representa aquela ideia tão arraigada entre nós de que o cuidado com a casa e com os filhos é um trabalho “naturalmente” feminino e que todas as atividades ligadas à força e à razão seriam “naturalmente” masculinas.
A única coisa que há de natural nisso tudo é o interesse das classes dominantes em manter as estruturas de poder na sociedade. É vital para o capitalismo socializar homens e mulheres desde o seu nascimento para aceitar pensamentos e ações sexistas. Desse modo, enquanto os homens produzem, as mulheres procriam para colocar novos trabalhadores para produzir mais e, assim, manter a engrenagem.
O que o feminismo propõe é uma ruptura com essa lógica opressora e o fim da exploração sexista. Como afirma Bell Hooks (2018)*, “o movimento não é anti-homem, é anti-sexismo”. A discriminação de gênero (que é o sinônimo de sexismo) pode ser entendida como o preconceito baseado no gênero de uma pessoa. Eu gosto de ampliar ainda mais essa noção e entender que o sexismo tem uma ligação direta com os papéis de gênero.
Da igreja aos filmes de Hollywood, há um imenso aparato cultural que nos diz o que é “coisa de homem” e o que é “coisa de mulher”. Não tem como escapar, todos nós somos atravessados por ideias como: mulheres devem ser boas e servir; homens não levam desaforo para casa e nem podem chorar. Essa definição de comportamentos que devem ser performados por cada um dos gêneros encontra na divisão social do trabalho sua razão de existir. É por isso que você foi enganado em relação ao feminismo.
O feminismo propõe uma nova estrutura de sociedade baseada na igualdade. O movimento não propõe apenas que homens e mulheres ganhem os mesmos salários, ou que as mulheres tenham mais representatividade política. O feminismo propõe uma revisão de toda organização social e é exatamente por isso que ele é ameaçador.
A incompreensão sobre o feminismo é um projeto. Como a maior parte de nós aprende sobre o feminismo na mídia de massa, o conceito de feminismo ainda está ligado ao medo e à fantasia. Não é de se estranhar que 56% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais não queiram se associar ao movimento, segundo pesquisa publicada pelo Datafolha em abril de 2019. Nós mulheres somos tão socializadas a aceitar e reproduzir o sexismo quanto os homens. A diferença está apenas no fato de que os homens se beneficiam um pouco mais do machismo.
Contrariando o projeto de manutenção da ordem, homens e mulheres começaram a entender a mutualidade e a interdependência que existe entre nós. Estamos descobrindo juntos um caminho de liberdade para desconstruir os papéis de gênero e acabar com a dominação sexista.
Desmistificar o feminismo é revolucionário.
* hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018
Quer comentar a coluna, tirar dúvidas ou sugerir temas? Envie email para professoraclarat@gmail.com
* hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018
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