Jornal Estado de Minas

DERMATOLOGIA

Doenças de pele e seus números impressionantes


Doenças e lesões de pele representam mundialmente a quarta principal causa de doenças não fatais. Suas implicações socioeconômicas estão bem compreendidas, com custos no valor de US$ 75 bilhões anuais apenas nos Estados Unidos. O tema é amplo e impacta diretamente a vida de milhões de pessoas, pois as lesões de pele podem ter diversas origens, desde de agressões físicas na pele, como queimadura por acidentes ou cortes (cirúrgicos ou não), ou podem se originar como uma comorbidade, ou seja, lesões consequências de outras doenças.



Isso ocorre, por exemplo, com a radiodermatite, uma queimadura de pele causada pela radiação que acontece em quase 100% dos pacientes com câncer submetidos à radioterapia. Num universo de 18 milhões de diagnósticos de câncer no mundo e 9 milhões de mortes, fatores que ajudam no controle da radiodermatite contribuem para maior adesão do paciente ao tratamento e, certamente, também contribuem para redução dessa elevada taxa de mortalidade.
 
 

De forma semelhante, podemos entender o pé diabético. Nos Estados Unidos, mais de 4 mil americanos são diagnosticados com diabetes diariamente. É isso mesmo, diariamente! Além disso, a Associação Americana de Diabetes afirma que desse total, quase 300 pacientes serão submetidos a amputações de membros, que é o último recurso para o combate de uma lesão mal tratada. Ainda segundo a associação, a úlcera do pé diabético será desenvolvida em 25% desses pacientes, representando um custo mínimo de 15 bilhões de dólares por ano.

As despesas com as lesões por pressão (antigamente denominadas úlceras de decúbito) também não ficam atrás. Anualmente são gastos mais de 11 bilhões de dólares no tratamento dessas úlceras, sendo o custo do tratamento mais de duas vezes e meia o custo da prevenção. Particularmente essa lesão, dentre todas outras, é a mais evitável, com as corretas trocas de posições do paciente no leito.





Todos esses números relacionados aos custos com doenças de pele aquecem o comércio de produtos para tratamento de lesões, e empresas especializadas em análise de mercado já calcularam o valor do mercado que gira em torno de algumas dessas patologias. Um relatório da empresa Tecnavio intitulado "O Mercado Global de Úlceras do Pé Diabético" avaliou os números no período de 2018 a 2022. Segundo o estudo, o mercado do pé diabético teve uma valorização de 991 milhões de dólares nesse período. O estudo aponta também que um dos principais impulsionadores da circulação monetária em torno de lesões de pele é o desenvolvimento de produtos eficazes e seguros. De fato, aliado às perdas econômicas e pessoais, que são irreparáveis, o tratamento de feridas e lesões cutâneas enfrenta esse sério problema: falta de produto acessível e de eficácia cientificamente comprovada.

Mas o que torna tão difícil o tratamento das lesões de pele? 

Muitos produtos disponíveis são falhos quanto à sua eficácia por não compreenderem, nas suas ações terapêuticas, a complexidade e o aspecto multifatorial do processo de regeneração cutânea, que, independente da origem, se constitui de um processo biológico complexo com interação simultânea de eventos celulares, bioquímicos e imunológicos, além de requerer um ambiente livre de microorganismos para o pleno restabelecimento. 

Esse ambiente se torna ainda mais complexo quando as lesões de pele estão relacionadas às doenças auto-imunes, ditas na medicina "doenças raras de pele". Exemplos dessas condições crônicas e que acompanharão o paciente pelo resto da vida, são: psoríase, alergias, dermatite atópica, e pênfigos. Nesses casos, falhas genéticas na produção de proteínas podem comprometer as estruturas da pele e, consequentemente, sua função barreira, favorecendo a entrada de microorganismos e instalação de ambiente inflamatório persistente.





Além da influência da carga genética no avanço de doenças raras de pele, muitos estudos têm comprovado a influência da carga emocional para acometimentos não só crônicos, mas também agudos. É o caso da psoríase, na qual a ciência já comprovou a maior relevância da carga emocional frente à carga genética para o controle das descamações na pele. 

Grupos de cientistas espalhados por todo mundo são unânimes em afirmar a relevância do controle do estresse para conter as manifestações das doenças de pele. Por isso, o aspecto psicossocial na abordagem junto ao paciente sempre deve ser levado em consideração. Um estudo publicado no final de 2020, analisou 1510 participantes com 13 diferentes doenças de pele sob a ótica psicossocial. Utilizaram-se de questionários padrão na clínica médica para medir quantitativamente os seguintes quatro aspectos qualitativos: sintomas depressivos, isolamento social, solidão e qualidade de vida. Foi utilizada análise estatística para compreender e comprovar a associação de doenças de pele com cada uma dessas quatro medidas.

O estudo concluiu que participantes com doenças de pele apresentaram maior probabilidade de apresentar sintomas depressivos, isolamento social, solidão e menor qualidade de vida. Pacientes desempregados, solteiros e idosos apresentaram maior risco de desenvolver sintomas depressivos. Os pesquisadores sugerem que mais atenção deve ser colocada no aspecto psicossocial do cuidado para reduzir a carga de doenças de pele. Algumas considerações incluem monitorar os pacientes quanto a alterações relacionadas ao humor e implementar intervenções psicossociais precoces.





Justamente por compreender a relevância e o impacto na saúde de milhões de pessoas que sofrem por estresse, doenças de pele, e baixa auto-estima, dediquei minha carreira de farmacêutica a entender todas as dores desses pacientes e buscar na natureza e nanotecnologia alternativas que pudesse explorar para desenvolver produtos e tratamentos de forma integrativa, considerando os aspectos multifatoriais desses acometimentos de pele. Nas nossas colunas quinzenais, abordaremos o assunto de doenças de pele, seus impactos psicológicos e sociais,  tratamentos naturais a partir de conhecimentos milenares, uso da nanotecnologia para aumentar eficácia e segurança de produtos, e, claro, muita ciência.