Jornal Estado de Minas

Presidente do TJ tropeça no uso do hífen no bochicho de censura ou não na Bienal





É proibido proibir

Que tal uma voltinha na Bienal? Naquele dia preguiçoso, o prefeito decidiu visitar a exposição. Respirou fundo, mexeu o corpo e foi pra rua. Ao chegar à festa do livro, ops! Viu Vingadores. Lá dentro, como quem não quer nada, um beijo que considerou impróprio. Sem pensar duas vezes, mandou recolher a obra. Esqueceu-se de combinar com os russos. Os brasileiros não deixaram por menos. Organizaram-se.
“Não à censura!”, gritavam manifestantes que se opunham ao recolhimento dos quadrinhos. Marcelo Crivella dizia que não era censura, mas respeito ao Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Juristas se dividiram a respeito. E daí? Enquanto se discutia tema tão espinhoso, curiosos questionaram a etimologia da incômoda trissílaba. Eis a resposta: a palavra vem do latim censura (condenação). Pertence à família de censo, que originou censor. Entre os romanos, censor era a pessoa que recenseava a população e zelava pelos bons costumes.
Entre nós, tornou-se, sobretudo, sinônimo de proibição.

Tropeço de Sua Excelência

A decisão do prefeito movimentou o Judiciário. Um juiz mandou liberar a negociação da obra. Houve recurso. O presidente do Tribunal de Justiça mandou recolher a história em quadrinhos. Justificou assim: “… em se tratando de obra de super-heróis, atrativa ao público infanto-juvenil, que aborda o tema da homossexualidade, é mister que os pais sejam devidamente alertados”. Ops! Sua Excelência tropeçou no hífen. Infantojuvenil se escreve assim – coladinha.


Compensação

Ufa! Bobeou na grafia de infantojuvenil. Mas acertou na escrita de super-herói.
O prefixo super- pede hífen quando seguido de h ou de r (duas letras iguais provocam curto-circuito). No mais, é tudo junto como unha e carne: super-homem, super-história, super-homenagem, super-região, super-racional, superatenção, superativo, superemoção, supermercado.

Mulher de César

Bienal ou bianual? As duas palavras são sinônimas. Mas na língua vale o dito sobre a mulher de César. A primeira-dama do Império Romano não só tinha de ser honesta. Tinha de parecer honesta. A língua não só tem de ser correta. Tem de parecer correta. Por isso, pra evitar confusão, prefira a forma corrente. Use bienal pra indicar a cada dois anos.

De onde vêm as ideias?

Ideias não surgem do nada, mas do acúmulo de informações. Segundo o neurocientista Henrique Del Nero, da USP, a criatividade é proporcional ao repertório.
“A mente calcula qual a melhor jogada a partir da maior taxa de informações com a menor redundância”. Por isso, fique esperto. Enriqueça seu banco de dados com atividades que, além de despertar a imaginação e a fantasia, gerem novas imagens. É o caso de leituras, viagens e atividades artísticas.

Até tu, Guedes?

O ministro da Economia disse que a primeira-dama da França é “feia mesmo”. Pegou mal. Diante da reação, ele voltou atrás. “Guedes pede desculpas por ofensa a mulher de Macron”, escreveu o site do jornal. Leitores fizeram o que têm de fazer. Leram. Estranharam a falta do sinalzinho indicador de crase.
Com razão. No caso, estão presentes dois aa: a preposição exigida pelo verbo (a gente pede desculpas a alguém) e o artigo definido que acompanha o substantivo mulher de Macron: Guedes pede desculpas por ofensa à mulher de Macron. Pintou a dúvida? Apele para o tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Não precisa ser sinônima, mas é importante que respeite o número (singular ou plural). Se no troca-troca der ao, sinal de crase. Caso contrário, o acento não tem vez: Guedes pede desculpas por ofensas ao pai de Macron.

Leitor pergunta

Qual o plural de ultravioleta?
. Sadi Gomes, Porto Alegre

O adjetivo ultravioleta é invariável: raios ultravioleta.

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