Quem aguenta?
Ufa! Temos emoções pra dar, vender e emprestar. A mais recente é a repercussão de reportagem do Jornal nacional. Na terça, o JN noticiou o depoimento do porteiro do condomínio onde o presidente reside no Rio. Ele associou o nome do ilustre morador ao caso Marielle Franco. Bolsonaro, lá das Arábias, reagiu. Disse que a matéria faltava com a verdade. Na briga de versões, o procurador-geral da República entrou no pega pra capar. Com uma palavra, desqualificou a notícia: “É factoide”, disse ele. O vocábulo rima com asteroide, debiloide, cretinoide. Elas têm um denominador comum. Terminam com -oide. As quatro letrinhas vêm do grego. Querem dizer forma, aparência, imagem. Asteroide é o que tem aparência de astro. Debiloide, de débil mental. Cretinoide, de cretino. Factoide joga no mesmo time. Tem aparência de fato. Mas fato não é.
Recado "A simplicidade da linguagem não é incompatível com a riqueza de conteúdo" Carlos Leite Vieira
O segredo
“O segredo do bom texto consiste em dizer de modo fácil coisas profundas, significativas e reveladoras, não em dizer coisas simples e óbvias de modo complicado.” (Edméia G. Neiva)
Enem
Hoje é dia de Enem. Mais de 5 milhões de estudantes farão o teste Brasil afora. Uma das preocupações da moçada é a redação. Embora estejam pra lá de preparados, eles tremem só de pensar no assunto. As preocupações são muitas. Entre elas, a repetição. É proibido repetir? Não.
Nem toda repetição é má. A estilística, que dá liga e charme ao texto, longe está de indicar pobreza vocabular. É o caso do "é preciso” reiterado neste parágrafo:
Como acabar com a cultura do desperdício? Ela tem de ser desmontada por dentro. É preciso que os brasileiros não joguem fora restos de comida aproveitáveis nem deixem as lâmpadas acesas quando saem de um aposento. É preciso que os livros escolares sejam aproveitados pelos irmãos menores. É preciso não destruir os bens públicos. É preciso, enfim, martelar insistentemente na necessidade de poupar.
É o caso, também, deste trecho de Barack Obama:
“Sim, nós podemos. Nós podemos recuperar a economia do país. Nós podemos legar uma pátria melhor pra nossos filhos e netos. Nós podemos respeitar os direitos humanos. Nós podemos zelar pelo meio ambiente. Nós podemos construir um mundo mais justo e democrático. Sim, nós podemos.”
Bruxaria
Na quinta, foi Dia das Bruxas. Os americanos o comemoram. Nós nem ligamos pras coitadas. Deixamo-las lá, montadas na vassourinha. Mas elas, generosas, ensinam uma lição. X ou ch? Depois de br, não vacile. É a vez do x: bruxa, bruxaria, bruxulear, Bruxelas.
Modismo
Thiago Bezerra escreve:“Tudo que vira moda é aceito pelas pessoas até sem pensar. Mas existe moda brega, não é mesmo? Entrou em cartaz o advérbio “justamente”. Jornais, telejornais, políticos, jornalistas, advogados abusam da palavra. Ela sobra”. É verdade. A maior parte dos advérbios terminados em –mente só tem uma função – sobrecarregar a frase. Quer ver?
João deve sair (provavelmente) às 6h.Cumpriu a ordem (exatamente) como o chefe determinou.(Atualmente) todo mundo tem celular.A reclamação era (completamente) inoportuna.Disse (exatamente) isso, sem tirar nem pôr.Os pacientes odeiam (principalmente) ter de esperar.
É (terminantemente) proibido ultrapassar o limite.
Nesse período, acho que a área social foi a que mais sofreu. Eu acabei de trocar o secretário (justamente) por isso.
Xô! Xô! Xô!
Leitor pergunta
Ouvi no rádio esta notícia: “Fiscais extorquiram comerciante”. Estranho, não? Comente, por favor.
Celina Alves, Erexim
Virgem Maria! Extorquir não é lá coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direto tem de ser coisa, nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa. Não alguém: Fiscais extorquiram dinheiro de comerciante. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista.