Lobo mau toma mingau
A dúvida é do Cacá. “Adoro a história do lobo mau, aquele que toma mingau. Mas, quando vou escrever mau, pinta a dúvida. É com um u com l? Nunca sei.
Mau
Há dois macetes. Um: mau rima com mingau. Um e outro se grafam com u. O outro: mau é o contrário de bom. Hesitou? Aplique o tira-teima. Substitua o adjetivo pelo contrário. Se der bom, o lobo torce o rabo. Deixa-o igualzinho ao u:
O lobo mau (bom) come criancinhas. Ele vive de mau (bom) humor porque tem mau (bom) caráter.
Mal
Mal às vezes é advérbio. Outras, substantivo. Um e outro opõem-se a bem. Na hora do vacilo, pare. Respire fundo e parta pro troca-troca:
O lobo era mal-humorado (bem-humorado) porque vivia de mal (de bem) com a vida. Na aventura com Chapeuzinho, saiu-se mal (bem). Depois, sentiu grande mal-eestar (bem-estar).
É isso
Com mau e mal, só truque. Recorrer ao contrário dá sempre certo. Não deixa você em maus lençóis.
Cair de quatro
Alguém disse que a gramática é um sistema de ciladas. As armadilhas ficam à espreita. Ao menor descuido, lá vamos nós. Caímos de quatro. A palavra meio é um dos perigos.
Meio = um tanto
A bichinha, cheia de meias horas, às vezes se mantém invariável. Não quer saber nem de feminino nem de plural. No caso, é advérbio. Significa um tanto:
Maria anda meio (um tanto) irritada.
Na prova, mostrou-se meio (um tanto) insegura em cálculo.
Elas saíram meio (um tanto) constrangidas; eles, meio (um tanto) decepcionados.
Deixe as janelas meio (um tanto) abertas.
Meio = metade
Outras vezes, meio quer dizer metade. Aí, sem moleza, flexiona-se como qualquer mortal: Os médicos dizem meias verdades. Meias verdades são meias mentiras. Eles são meios-irmãos. É meio-dia e meia (hora). Comprei duas meias-entradas.
É assim
Mulher que exerce a função de embaixador é embaixadora. Mulher casada com embaixador é embaixatriz. Que denominação tem o homem casado com embaixadora? Nenhuma particular. Ele é marido da embaixadora.
Lá e cá
Por isso se escreve com duas palavras. Não existe a forma coladinha: Cheguei atrasada. Por isso perdi o início do filme.
Preguicinha
Atenção, galera. Na fala descontraída, a preposição para fica preguiçosa que só. Dispensa uma letra. Vira pra. Torna-se leve como pluma no ar. Por isso, ela faz uma súplica. “Não me deem o peso de um acento. Livrar-se de um fardo e ganhar outro? Seria trocar seis por meia dúzia. Nada inteligente”: Pra frente, Brasil. Trabalho pra burro. Gasta dinheiro pra chuchu. Acende uma vela pra Deus e uma pro diabo.
Leitor pergunta
Qual é a do verbo rir? Sempre que preciso empregá-lo, fico na dúvida. Banco, então, a esperta. Substituo-o por dar risada. Dá certo. Mas a dúvida fica. Que tal uma ajudinha?
• Sílvia Alencar, Recife
Rir é gozador. Ri de nós. Por causa do “eu rio”, as pessoas pensam que ele é defectivo, com falta de pessoas, tempos e modos. Nada disso. O boa-vida é completinho da silva. Mas é irregular. Eis o senhor rir. Ria com ele: eu rio, tu ris, ele ri, nós rimos, vós rides, eles riem; eu ri, ele riu, nós rimos, eles riram; que eu ria, você ria, nós ríamos, eles riam; se eu rir, nós rirmos, eles rirem. E por aí vai.
Moral da história: rir é o melhor remédio.