O possível nem sempre é provável
“É possível o coronavírus provocar uma recessão global?”, perguntou o aluno ao professor. “É possível, mas não provável”, respondeu o mestre. O estudante ficou confuso. Sim ou não? A saída foi procurar a diferença entre as duas palavras. Possível é o que pode ocorrer ou ser feito. Provável, o que deve ocorrer ou ser feito: Sem estudar, é possível passar no vestibular de medicina, mas não provável. É possível, mas não provável, que eu ganhe a Mega-Sena acumulada. É possível, mas não provável, que o coronavírus provoque colapso no sistema de saúde brasileiro.
Superdica
Reparou? Há uma gradação de viabilidade ou expectativa. No fundo, quase tudo é possível. Até milagre. Mas nem tudo é provável. Se as duas palavras fossem sinônimas, os contrários também seriam. Mas não são: É improvável que o coronavírus provoque colapso no SUS, mas não impossível.
Caos
A palavra da semana? É caos. O coronavírus avança. A OMS declara pandemia. As bolsas de valores despencam. O dólar alça voo. O Congresso aumenta a despesa pública. Falta dinheiro. Ufa! A palavra grega pede passagem. No começo de tudo, antes de existir o mundo, havia um grande vazio. Era o vácuo, o abismo – o caos. Dele nasceu Gaia. Os ascendentes e descendentes de Aristóteles a chamavam de Grande Mãe. Os habitantes do Império Romano, de Terra.
Bomba
“Desgraça pouca é bobagem”, diz o povo sabido. O Congresso lhe dá razão. Num gesto de irresponsabilidade, Suas Excelências aprovaram aumento de despesa de R$ 20 bilhões por ano. “É pauta-bomba”, disse o ministro. “Virão outras”, responderam deputados e senadores. Pintou, então a questão. Qual o plural de pauta-bomba? A duplinha joga em dois times. Um: pautas-bomba. O outro: pautas-bombas.
Por falar em dois times...
Outros substantivos jogam no time de pauta-bomba. É o caso de carta-bomba (cartas-bomba e cartas-bombas), carro-bomba (carros-bomba, carros-bombas), carro-chefe (carros-chefe, carros-chefes), carro-forte (carros-forte e carros-fortes), carro-guincho (carros-guincho, carros-guinchos), carro-leito (carros-leito, carros-leitos), carro-pipa (carros-pipa, carros-pipas).
Desperdício
“Safra agrícola de 2020 deve bater recorde e chegar a 246,7 milhões de toneladas”, escreveu o jornal. Baita pleonasmo. Em época de vacas magras, desperdiçar é proibido. Toda safra é agrícola. Basta safra. Se quiser especificar, diga o produto: safra de soja, safra de arroz, safra de feijão, safra de grãos.
Ser generoso é...
Ler muitas histórias para as crianças. Dar emoção à voz. Deixá-las tocar as ilustrações. Dar-lhes tempo para sonhar, viver outras vidas, soltar a imaginação. Comentar. Assim nasce um leitor.
Por quê?
Foi manchete do site: “O governador do Distrito Federal anunciou a suspensão de aulas, shows e eventos esportivos para evitar a proliferação do coronavírus”. A notícia suscitou uma curiosidade linguística. Por que suspensão se escreve com s? Os substantivos terminados em -ensão derivados de verbos terminados em -ender grafam-se com s. É o caso de compreensão (compreender), tensão (tender), pretensão (pretender), ascensão (ascender).
Olho vivo
Rendição deriva de render e se escreve com ç. Exceção? Nada disso. Só se escrevem com s os terminados em
-ensão.
Leitor pergunta
Abreviatura tem plural?
Paulo Silva, Brasília
Depende. A maior parte das abreviaturas joga no time do com-com-com – com ponto, s do plural e acento: capítulo (cap.), capítulos (caps.), página (pág.), páginas (págs.), companhia (cia.), companhias (cias.), século (séc.), séculos (sécs.) Dispensam o ponto abreviativo e o s indicador de plural as abreviaturas de hora, minuto, segundo, metro, quilograma, litro e respectivos derivados: 1km, 10km, 1g, 50g, 1m, 50m, 1 dl, 20dl.