Recado
“Uma mentira piedosa às vezes pode ser meritória.”
Wolfgang Grüen
De Hitler e coronavírus
Dizem as más-línguas que o coronavírus aprendeu a lição de Adolf Hitler. O ditador alemão acreditava na raça pura, a ariana. Como limpar o mundo? Eureca! Mandou pra campos de concentração os “impuros”. Entre eles, judeus, ciganos, homossexuais, pessoas fragilizadas por enfermidades. O vírus que se manifestou em 2019 também faz sua seleção. Ataca idosos e pessoas com morbidade como diabetes e tuberculose. Ambos acreditam na eugenia. A palavra pertence à família de eufonia, eutanásia e evangelho. São todas formadas pelo prefixo eu. As duas letras querem dizer bom. Elas aparecem em montões de palavras. Eufonia é uma delas. Significa som bom, agradável. Eugenia, outra. Tem a acepção de melhoramento genético. Eutanásia, mais uma. Quer dizer boa morte. Evangelho idem. Aí, o eu se disfarçou de ev. Mas mantém o significado. É boa-nova.
Que ruim!
O contrário de eutanásia? É distanásia. Valha-nos, Deus! Trata-se de morte com dor, sofriiiiiiiiiiiiiida. O Senhor nos proteja!
Maiúscula ou minúscula?
Em tempos de pandomia, as mudanças ocorrem em tempo real. É o caso da COVID-19. Quando nasceu, o nome era uma sigla. O c se refere a corona. Vi, a vírus. D, a doença. O numeral indica o ano em que a enfermidade apareceu. A grafia obedecia à regra das siglas. Só a inicial maiúscula, como Detran, Embrapa, Sesi, Senac.
Com o passar dos dias, ela passou a designar a doença. Entrou, então, no time de gripe, câncer, hepatite. Tornou-se substantivo comum. Outra seguiu o mesmo caminho. Quando nasceu, Aids era uma sigla. Hoje dá nome a doença. Escreve-se, por isso, com inicial pequenina – aids.
Dos times
É medida provisória pra cá, medida provisória pra lá. Medida provisória pracolá. Como escrever a duplinha? Ela segue a norma dos atos legais. Só terá as iniciais grandonas se estiver acompanhada do número ou do nome: Medida Provisória 45, Medida Provisória das Mensalidades Escolares, Decreto 15.612, Lei 42, Lei de Diretrizes e Bases.
Nos demais casos, adeus pedigree. A pequenina vira-lata pede passagem: A última medida provisória do governo estava sendo esperada. No Brasil, existem leis que não pegam. A lei que acabou com a escravidão no Brasil foi assinada pela princesa Isabel. É a Lei Áurea.
De ordens e vírgulas
A referência a textos legais dá nó em fumaça. Ora aparece fileirinha de vírgulas. Ora o sinal não dá o ar da graça. “É capricho ou há regra?”, perguntam advogados, estudantes e leitores. Há regra. Ela é simples como andar pra frente, tirar pirulito de criança, ou arrancar promessa de político. Guarde isto: se a referência obedecer à ordem crescente, dispense a vírgula. Caso contrário, dê-lhe passagem com banda de música e tapete vermelho: Inciso II do parágrafo 3º do artigo 5º da Constituição Federal. Constituição Federal, art. 5º, parágrafo 3º, inciso II.
Dica 1
É importante não misturar as ordens. Siga do começo ao fim a crescente ou a decrescente.
Dica 2
A data do texto também pede vírgula. Assim: O Decreto 15.613, de 29.4.04, autoriza… A Medida Provisória 45, de 6.6.93, determina…
De páginas e preposições
Outra dor de cabeça – a referência à página. A gente diz: “As provas estão insertas na página 10 ou à página 10”? Trata-se de adjunto adverbial de lugar. Na linguagem dos mortais, dá-se a vez à preposição em: Fiz marcas em várias páginas do livro. Preste atenção à nota referida na pág. 8. As provas estão insertas na pág. 10.
É tradição na linguagem jurídica o emprego da preposição a. É tradição, não obrigação: Provas insertas à página 10 do processo. Provas insertas às páginas 10 e 20 do processo. Provas insertas na pág. 10 do processo. Provas insertas nas páginas 10 e 20 do processo.
Leitor pergunta
Como abrevio horas?
Cláudio Santos, São Paulo
Nesta alegre Pindorama, fala-se português. Por isso, a abreviatura de horas não suporta dois pontos (2:15), coisa do inglês. Aqui, a redução segue regras próprias: 2h, 2h15, 2h15min40.