Recado
"Escrevo porque não tive saúde para estudar engenharia."
• Manuel Bandeira
Como chegar ao texto fácil?
Escrever é mandar recado. Ler é entender o recado. Do conceito, pinta o desafio. Como fazer o leitor entender o recado? São duas etapas. A primeira: ele tem de ler o texto. A segunda: tem de entendê-lo. Sem isso, o autor fracassa. Valha-nos, Deus!
Vamos combinar? Ninguém quer jogar o esforço na lata do lixo. O jeito é dar um jeito. Se o leitor é a vedete da comunicação, vamos conquistá-lo. Estudiosos do tema apresentam receitas. Elas têm um denominador comum. Chama-se sedução. Combinar ingredientes leva ao produto mágico. É o texto fácil.
Xô, texto difícil
Um texto claro, enxutinho e prazeroso não nasce em árvores. É fruto de trabalho – 99% de transpiração e 1% de inspiração. O objetivo é um só: facilitar a vida do leitor. Como? Com frases curtas, ordem direta, palavras simples, economia de adjetivos e advérbios.
Lido, relido, reescrito muitas vezes, eliminam-se repetições, enxotam-se redundâncias, chega-se à clareza. Terá ficado bom? Amigos podem palpitar. Ouça-os. Não só. Há um tira-teima que ajuda – e muito. Trata-se do teste de legibilidade. Aplicando-o, a gente tem ideia do grau de dificuldade da mensagem que mandamos.
O teste
Em que consiste o termômetro? Pegue um escrito seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma redação. Depois, siga a receita. Com um cuidado: faça parágrafo por parágrafo.
Eis os passos:
1. Conte as palavras do parágrafo (a avaliação deve ser feita parágrafo por parágrafo)
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto)
3. Divida o número de palavras pelo número de frases
4. Some o resultado do passo 3 com o número de polissílabos
5. Multiplique o resultado por 0,4
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade
Possíveis resultados
1 a 7 = história em quadrinhos
8 a 10 = excepcional
11 a 15 = ótimo
16 a 19 = pequena dificuldade
20 a 30 = muito difícil
31 a 40 = linguagem técnica
acima de 41 = nebulosidade
Aplicação
Vamos ao tira-teima? Avalie a legibilidade do texto:
Até quando usaremos o carro como máquina de matar? Até quando beberemos “socialmente” e sairemos em pegas pelas ruas da cidade, tirando vidas inocentes? Até quando a impunidade dirigirá nossa consciência? Brasília, até há pouco tempo, era exemplo de paz no trânsito. Quando perdemos o humanismo, o respeito ao próximo? Porque, ao beber e dirigir, assumimos o risco de matar, de morrer. É hora de um basta! É hora de nos unirmos.
Resultado
1. Conte as palavras do parágrafo: 72
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto): 8
3. Divida o número de palavras pelo número de frases: 9
4. Some o resultado do passo 3 com o número de polissílabos: 19
5. Multiplique o resultado por 0,4: 7,6
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade: história em quadrinhos
Agora você
Que tal avaliar um texto seu? Escolha um parágrafo de carta, artigo ou redação escolar e aplique o teste. Se o resultado ficar acima de 15, abra o olho. Facilite a vida do leitor. Você tem dois caminhos. Um: diminua o tamanho das frases. Outro: mande algumas proparoxítonas dar uma voltinha. O melhor: abuse dos dois.
Leitor pergunta
Afim ou a fim – quando usar?
• Selina Graça, Samambaia
A fim de = para, com vontade de: A fim de economizar gasolina, deixou o carro na garagem e passou a ir ao trabalho a pé. Não estou a fim de viajar. Você está a fim?
Afim = afinidade, parentesco: disciplina afim, parentes afins, gastos afins.