Eleger é verbo generoso. Tem dois particípios. Um regular: elegido. Outro irregular: eleito. Quando usar um ou outro? Com os auxiliares ter e haver, elegido pede passagem. Com ser e estar, eleito: Algum candidato será eleito em primeiro turno? Os puxa-sacos dizem que ele já está eleito. O brasileiro tem elegido bons políticos? Talvez no passado o brasileiro haja elegido candidatos mais comprometidos com o país.
Favas contadas
Sabia? A expressão favas contadas tem tudo a ver com eleições. Foi há muuuuuuuito tempo. No Império, o voto eram favas. As brancas diziam sim. As pretas, não. Na apuração, separavam-se as cores. Venciam as que tinham o maior número – sem choro nem vela. Com o tempo, a duplinha abandonou as urnas, bateu asas e voou. Ganhou a boca do povo e novos empregos. Mas manteve fidelidade ao significado original. Favas contadas é fato consumado: A eleição hoje são favas contadas.
Voto
Foi dada a partida. A sorte está lançada. Candidatos suaram a camisa e gastaram sola de sapato com um único objetivo. Eleger-se. Pra chegar lá, precisam conquistar o eleitor e, com ele, o voto. O objeto de desejo tão cobiçado tem duas acepções e duas origens.
A primeira veio do latim votum. Quer dizer promessa, desejo. O padre faz voto de castidade. Os noivos, voto de amor eterno. Os padrinhos, voto de batismo. Amigos, votos de feliz Natal.
A segunda tem sentido político. Nasceu do inglês vote. Significa sufrágio, votação. É a maneira de expressar a vontade ou opinião num ato eleitoral ou numa assembleia: Muitos criticam o voto obrigatório. Preferem o facultativo. O síndico ganhou por um voto. O voto é a arma do eleitor.
Urna
É urna pra cá, urna pra lá, urna pracolá. A palavra é tão familiar que, quando usada, dispensa explicações. Sabemos que é o recipiente onde se depositam (ou a máquina onde se digitam) os votos de uma eleição: O brasileiro vai às urnas hoje. Os governantes têm de ouvir a voz das urnas. Esperamos com ansiedade o resultado das urnas.
Nem sempre o vocábulo teve esse significado. Quando nasceu, no latim, urna dava nome a um grande jarro de cerâmica usado para transportar água ou para guardar as cinzas dos mortos cremados. No século 16, o termo passa a designar, no português, o recipiente onde se colocam as pedras para os sorteios ou os votos de uma eleição. O sentido inicial bateu asas e voou. Ficou nos dicionários.
Eleição
A palavra mais ouvida nos últimos dias? É pesquisa. Os institutos fazem mais sucesso que a novela “Pantanal”. Pode? Pode. Tanta popularidade cobra preço alto. Ao escrever a trissílaba e respectiva filharada, muitos tropeçam na grafia. Dão a vez ao z em vez do s. Esquecem-se de pormenor pra lá de importante. Na língua, impera uma regra: a família acima de tudo. Se o paizão se grafa com s, os descendentes não têm saída. Conservam a letrinha. É o caso de pesquisa, pesquisar, pesquisador, pesquisado, pesquisinha, pesquisona. É o caso também de camisa, camisaria, camiseiro, camisinha, camisola. É o caso ainda de país, paisinho, paisão, paiseco.
Não só
A regra não é privilégio do s. Vale para as demais letras. Viajar, por exemplo, se escreve com j. Todas as formas do verbo serão fiéis a ele: viajo, viaja, viajamos, viajam; viaje, viajes, viajemos, viajem. Nariz, rapaz, capuz, raiz, juiz e vez exibem z. A lanterninha do alfabeto permanece firme e forte nos derivados: narizinho, rapazinho, rapazote, capuzinho, encapuzar, raizinha, enraizar, enraizado, juízo, ajuizar, vezinha, vezeiro.
Leitor pergunta
De pé ou em pé?
Múcio Carlos, Pelotas
Tanto faz. Com uma ou outra preposição, o sentido de mantém:
Come em pé. Come de pé.
Viajei em pé. Viajei de pé.
Esperamos em pé. Esperamos de pé.
Recado
“O fato mais importante no ato de escrever é que o tempo some. Três horas parecem três minutos.”
Gore Vidal