Dad Squarisi
Deu a loucura na CNN. De repente, não mais que de repente, começou a agredir os ouvidos dos telespectadores. Repórteres e apresentadores dizem o Goiás, o Sergipe, o Mato Grosso do Sul. Nada feito.
Guarde isto: Goiás, Sergipe, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul são estados solteirinhos convictos. Não aceitam, nem a pedido dos deuses do Olimpo, aliança no anular esquerdo. Por isso dispensam o artigo.
Livres e soltos, circulam sem companhias indesejadas: Goiás fica no Centro-Oeste. Nasci em Goiás. Ele chegou de Goiás. Você conhece Goiás? Quem nasce em Sergipe é sergipano ou sergipense? Sergipe fica no Nordeste. Nasci em Sergipe, mas passei a vida em Goiás. Os holandeses invadiram Pernambuco. Trabalho em Pernambuco. Mudou-se para Mato Grosso do Sul.
O ARTIGO
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Lula ou Bolsonaro será ou serão presidente pelos próximos quatro anos?Neste domingo, vote na língua pátriaElizabeth II se foi, deixando uma série de dúvidas para súditos brasileirosAprenda os truques do vocativo, a arte de chamar alguémJuro ou juros? Ambos doem do mesmo jeito no bolso...Pule a cerca, se quiser. Mas cuidado ao escrever esta palavrinhaMoral da história: de significa sem artigo. Do e da, com artigo.
CRASE
O artigo tem tudo a ver com a crase. Acento grave antes de nome de país, estado, cidade, bairro depende do pequenino. Há um verso que dá dica infalível. Ele manda substituir o verbo ir pelo voltar. Com o troca-troca, não há erro:
Se, ao voltar, volto da, crase no a.
Se, ao voltar, volto de, crase pra quê?
1. Vou a Bahia? À Bahia?
No troca-troca, volto da Bahia. Nota 10 para vou à Bahia.
2. Foi a Alagoas? À Alagoas?
Voltou de Alagoas. Ao voltar, volta de, crase pra quê? Vou a Alagoas.
3. Vou à Barra da Tijuca? A Barra da Tijuca?
Volto da Barra. Ao voltar, volto da, crase no a: Vou à Barra da Tijuca.
4. Vai a Brasília? À Brasília?
Ao voltar, volto de, crase pra quê? Volta de Brasília. Vai a Brasília.
MAIS EXEMPLOS
Vou à Suécia. (Volto da Suécia.) Vou a Miami. (Volto de Miami.) Vou ao Rio Grande do Sul. (Volto do Rio Grande do Sul.) Vou à Alemanha. (Volto da Alemanha.) Vou a Lisboa. (Volto de Lisboa.) Vou a Portugal e a Cuba. (Volto de Portugal e de Cuba.) Cheguei a Natal. (Voltei de Natal.) Fui a Aracaju. (Voltei de Aracaju.)
POR FALAR EM ARTIGO...
Ocorre crase em “O bom filho a casa torna”? Ops! A questão retoma lição pra lá de repetida. A casa onde moramos dispensa o artigo. Dizemos “estou em casa”, “saí de casa”, “entrega em casa”. Sem o pequenino, nada de crase.
Mas, se a palavra estiver determinada (casa dos avós, casa de Maria), o conto muda de enredo. A casa pede artigo. Com ele, o acentinho: O bom filho a casa torna. O bom filho volta à casa dos pais. Voltei à casa da mamãe dois anos depois de sair.
Com artigo? Sem artigo? Na dúvida, recorra a truque pra lá de conhecido. Aplique a sugestão do versinho:
Se, ao voltar, volto da, crase no a. Se, ao voltar, volto de, crase pra quê?
Vamos lá? O bom filho volta de casa. O bom filho volta da casa dos pais. Voltei da casa da mamãe dois anos depois de sair.
SOBRE A CRASE
A crase não foi feita pra humilhar ninguém. Mas brinca com os sentidos. O poema de Cineas Santos serve de prova:
O amor bate à porta
E tudo é festa.
O amor bate a porta.
E nada resta.
LEITOR PERGUNTA
A entrega é a domicílio ou em domicílio? Vejo as duas formas e fico confuso.
• Marcelo Silva, Brazlândia
A forma nota 10 é em domicílio, não a domicílio. A entrega é feita em casa, em escolas, em lojas, em hospitais. E, claro, em domicílio.