Oba! O Natal chegou. Adeus, estresse de compras, presentinhos, corre-corre sem fim. É hora de distribuir sorrisos, telefonar aos amigos, desejar feliz Natal aos conhecidos e desconhecidos. Sobretudo, é hora de estar atento aos requintes da língua.
Nada de deslizes. O menino Jesus é bonzinho. Mas é filho de Deus. Perfeição é seu vício. Para bajulá-lo, lembre-se: Natal é nome próprio. Escreve-se com a inicial grandona. Mas os adjetivos que o acompanham não têm nada com isso. Vira-latas, grafam-se com a letrinha pequena: Desejo-lhe feliz Natal. Meus votos de alegre Natal e um 2023 pra lá de generoso.
Verbos natalinos
Presentear e cear pertencem ao vocabulário natalino. Ambos jogam no mesmo time. Cuidado com eles! Como passear, armam ciladas no presente do indicativo e do subjuntivo. O nós e o vós, orgulhosamente, esnobam o i. As outras pessoas carregam a vogalzinha com a resignação cristã.
Assim: eu passeio (presenteio, ceio), ele passeia (presenteia, ceia), nós passeamos (presenteamos, ceamos), vós passeais (presenteais, ceais), eles passeiam (presenteiam, ceiam); que eu passeie (presenteie, ceie), ele passeie (presenteie, ceie), nós passeemos (presenteemos, ceemos), vós passeeis (presenteeis, ceeis), eles passeiem (presenteiem, ceiem).
Presépio
Você sabia? Presépio vem do latim praesepiu. Na língua dos Césares, a palavra quer dizer estábulo. Na de Camões, Machado e Fernando Pessoa, ganhou outro significado. Dá nome à invenção de São Chiquinho de Assis. Em 1223, ele criou a instalação de Natal com personagens vivos. Lá por 1478, os napolitanos se deram conta do trabalho que a bicharada dava. Precisava de comida, bebida, limpeza.
Em época de folgas natalinas, não havia fé que sustentasse o luxo. O jeito foi dar um jeito. A saída veio a galope. Os boas-vidas puseram as mãos na cintura e deram o grito de comodismo:
– Ficar escravo de cavalos, vacas, carneiros e bodes? Qual é! Em vez de quadrúpedes de carne, osso e sangue, que venham manequins de cerâmica, plástico, papel machê.
A moda pegou. Hoje Europa, França e Bahia adotam o presépio de mentirinha. Se um ou outro fogem à regra, viram atração. Ganham espaço no rádio, na tevê e nos jornais. As crianças os visitam com o mesmo prazer da ida ao zoológico. É a atração do diferente.
Que assim seja
São Chiquinho de Assis inventou outras cerimônias natalinas. É dele a ideia da missa noturna de 24 de dezembro. A cerimônia começava à meia-noite. Durava um tempão. Só terminava na madrugada do dia seguinte. Quando os fiéis saíam da igreja, os galos estavam cantando. Daí o nome missa do galo.
Você sabia?
Os reis magos souberam do nascimento de Cristo. Presentearam-no com ouro, incenso e mirra. Os dois primeiros são velhos conhecidos. O último nem tanto. Vale a curiosidade. Mirra é uma planta medicinal. Joga no time dos vira-latas.
Encontra-se aqui e ali sem dificuldade. Era usada para embalsamar cadáveres. Daí, por extensão, ganhou o significado de secar, ressequir, diminuir, reduzir-se, minguar-se: O salário mirra, o mês cresce.
Generosidade
Na época do Natal, o coração fica molinho, molinho. Creches, asilos, instituições de caridade fazem a festa. O verbo doar vira vedete. Em evidência, ele impõe cuidados. Na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, dobra o o: eu doo, ele doa, nós doamos, eles doam; que eu doe, ele doe, nós doemos, eles doem.
Leitor pergunta
Papai Noel tem plural?
. Sara Bitencourt, Santos
Tem. É Papai Noéis.