Oba! Começou o carnaval. A palavra carnaval vem de carne. Significa dias em que a carne é liberada. Opõe-se à quaresma, período de abstinência. Como festa pagã, escreve-se com inicial minúscula.
Antes de chegar a esta alegre Pindorama, a palavrinha bateu pernas. Desembarcou aqui por via do italiano carnevale. Mas seu berço é o latim. Na língua dos Césares, significava “adeus à carne”.
Filhotes
O carnaval deitou e rolou nesta terra mestiça. Deu filhotes. Dele nasceu carnavalesco. O sufixo –esco é velho conhecido nosso. Aparece em adjetivos, mas não qualquer adjetivo. Só nos derivados de substantivos. Quer dizer semelhante, parecido. Carnavalesco é semelhante a carnaval. Dantesco, a Dante. Burlesco, a burla (zombaria). Momesco, a momo.
A família cresceu. Veio o neto — o advérbio carnavalescamente. Reparou? Ele é filho do adjetivo (carnavalesco). Cuidado ao usá-lo. Dizer que uma pessoa se comporta carnavalescamente às vezes ofende. O recado é este: você age como se estivesse no carnaval. Parece palhaço.
Quem não gosta de samba...
Abram alas, que o samba quer passar. E passa. Na terrinha descoberta por Cabral, começou com Donga. “Pelo telefone” abriu o caminho. Cartola, Pixinguinha, Mansueto de Menezes, Noel Rosa, Clementina de Jesus o seguiram.
Hoje existe uma certeza: “Quem não gosta de samba / Bom sujeito não é / É ruim da cabeça / ou doente do pé”. E uma dúvida. Onde a palavra nasceu? Há uma unanimidade — veio ao mundo na África. E um talvez — provavelmente do quimbundo, língua da família banta, falada em Angola.
Samba-canção & cia.
Há o samba da gema e variações pra dar e vender. Samba-canção, samba-choro, samba-enredo, samba-exaltação, samba-lenço, samba-roda são algumas. Todas têm um denominador comum. Aceitam dois plurais. Um: flexionam-se os dois termos (sambas-canções, sambas-choros, sambas-enredos, sambas-exaltações, sambas-lenços, sambas-rodas). O outro: só o primeiro ganha s. Aí, subentende-se a expressão “que servem de”: sambas-(que servem de) canção, sambas-(que servem de) choro, sambas-(que servem de) enredo, sambas-(que servem de) exaltação), sambas- (que servem de) roda.
Qual é?
Folião tem pressa. A festa começa antes da data marcada no calendário. É o pré-carnaval. A alegria traz às manchetes o prefixo pré-. A questão: quando usá-lo com hífen? A resposta é meio tucana. Em geral, o trio exige o tracinho, sobretudo quando a pronúncia aberta se torna bem clara.
É o caso de pré-escola, pré-vestibular, pré-estreia, pré-datado, pré-escolar, pré-diluviano, pré-história, pré-encolhido, pré-natal, pré-primário, pré-operatório, pré-santificado, pré-universitário.
O prefixo tem muitas exceções. Eis algumas: preanunciação, preaquecer, precogitar, precondição, predefinido, predelineado, predeterminado, predisposto, preestabelecido, preexistente, prefigurado, prefixado, pregustado.
Superdica
Com hífen? Sem hífen? Na dúvida, consulte o dicionário.
Na boca de todos
Uma das palavras mais faladas no carnaval e no pós-carnaval? É decoro. Ela veio do latim decoru. Na língua dos Césares e na de Camões tem o mesmo significado — decência. Muitos políticos são punidos por falta de decoro.
Leitor pergunta
Tenho dúvidas sobre a grafia de quaresma e quarta-feira de cinzas. Maiúscula? Minúscula?
• Luiz Celso, Guará
Guarde isto: carnaval, quaresma e quarta-feira de cinzas jogam no mesmo time. Sem pedigree, escrevem-se com a letra inicial pequenina.
Recado
“Se amor é fantasia, eu me encontro em pleno carnaval.”
• Vinicius de Moraes