Jair Bolsonaro vai depor na quarta-feira. A Polícia Federal quer que ele explique os estojos de joias da Arábia Saudita. O fato, claro, trouxe ao cartaz o verbo depor. Guarde isto: o dissílabo exige a preposição em: Bolsonaro vai depor na Polícia Federal. O acusado depôs na PF. Quem vai depor na CPI?
Pra depois? Nãooooooooo!
Viagem à China? A broncopneumonia de Lula impôs o adiamento do embarque. O presidente tem pressa. Quer remarcá-la para 11 de abril. Até lá, o verbo adiar permanecerá em cartaz. Abra os olhos: dizer “adiar pra depois” é baita pleonasmo. Adiar é sempre pra depois. Como subir é sempre pra cima e descer é sempre pra baixo. Basta adiar, subir e descer.
Papa nas manchetes
O papa Francisco virou notícia na semana passada. Por um lado, apareceu com charmoso agasalho de náilon. Depois se descobriu que era imagem produzida pela inteligência artificial. Por outro, internou-se no hospital com problemas respiratórios. Deve ficar alguns dias de molho.
Enquanto se recupera, vale a curiosidade. Papa tem parentesco com papai. A palavra veio do latim pappa, que nasceu grega. Na origem, traduzia a ternura infantil. Significava papai. Com o tempo, ficou restrita à mais alta autoridade da Igreja Católica – Sua Santidade.
Tratamento
Sua Santidade ou Vossa Santidade? Depende. Usamos Vossa Santidade quando falamos com o papa. E Sua Santidade quando falamos no papa.
Menor esforço
A lei do menor esforço merece banda de música e tapete vermelho. Com razão. No corre-corre diário, o tempo ocupa o pódio dos bens preciosos. Daí o mandamento – menor é melhor. Os pronomes, solidários, vão ao encontro das urgências do falante. Oferecem-se em forma de abreviatura. Para lançar mão da facilidade, não bobeie. Use-a como manda a gramática.
Deste jeitinho: papa: Vossa Santidade (V. S.), cardeal: Vossa Eminência (V. Emª), bispos: Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exª Revma.), Sacerdotes: Vossa Reverendíssima (V. Revma.), Padre (Pe.).
Menor de idade
A tragédia comoveu pais, professores, autoridades. Na segunda, garoto de 13 anos matou uma professora e feriu quatro pessoas. O fato ocorreu na Vila Sônia, na capital paulista. No noticiário, uma duplinha apareceu a torto e a direito. Trata-se da expressão “de menor”. Valha-nos Deus! Não use de menor nem sob tortura. A forma é menor de idade. O contrário? Maior de idade.
Propriedade vocabular
Maior de idade é preso pela polícia. Menor de idade é apreendido pela polícia. A forma diferente de referir-se se deve à imposição do Estatuto da Criança e do Adolescente. Não vale vacilar.
Leitor pergunta
Por que privatizar se escreve com z e pesquisar com s?
• Laila Abi, BH
Privatizar se escreve com z porque -isar não existe. O sufixo formador de verbos é -ar. Ele se cola ao radical: martelo, martelar; casa, casar; trato, tratar; retrato, retratar.
Às vezes, o radical tem s. O -ar não tem preconceitos. Cola-se a ele: pesquisa (pesquisar), bis (bisar), análise (analisar), catálise (catalisar), liso (alisar), paralisia (paralisar), improviso (improvisar).
Privado não conta com o s onde o -ar possa se agarrar. Precisa de uma ponte. Construíram o iz, que se mantém nos derivados: privado (privatizar, privatização, privatizado), ameno (amenizar, amenização), canal (canalizar, canalizado, canalizante), humano (humanizar, humanizado, desumanizar), capital (capitalizar, capitalização, capitalizado).
Algumas palavras são privilegiadas. Têm o z no radical. Nada mais justo que respeitar a família: cicatriz (cicatrizar), deslize (deslizar), juízo (ajuizar, ajuizado), raiz (enraizar, enraizado).