Amanhã é Dia dos Namorados. Cupido pede passagem. Ninguém escapa. De venda nos olhos, arco e flecha nas mãos, ele não escolhe hora nem lugar. Menino, menina, adulto, adulta, idoso, idosa, todos correm perigo. Queiram ou não, podem levar uma flechada.
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Dia dos Namorados convoca o verbo presentear. Conjugá-lo conforme manda a gramática agrada como tomar café na cama, receber flores, ouvir elogio. Por jogar no time de frear, cear e passear, presentear perde o i no nós e vós dos dois presentes — do indicativo e do subjuntivo.
Veja: eu presenteio (freio, passeio, ceio), ele presenteia (freia, passeia, ceia), nós presenteamos (freamos, passeamos, ceamos), vós presenteais (freais, passeais, ceais), eles presenteiam (freiam, passeiam, ceiam); que eu presenteie (freie, passeie, ceie), ele presenteie (freie, passeie, ceie), nós presenteemos (freemos, passeemos ceemos), vós presenteeis (freeis, passeeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, passeiem, ceiem).
Origem
Qual a origem do Dia dos Namorados? Márcio Cotrim responde: “A versão mais conhecida originou-se na Roma antiga, no século 3º. Um padre chamado Valentim, desobedecendo às ordens do imperador Cláudio II – que proibira o matrimônio durante as guerras por acreditar que os solteiros eram os melhores combatentes – continuou celebrando casamentos.
Acabou preso e condenado à morte. Considerado mártir pela Igreja Católica, morreu em 14 de fevereiro. No século 17, ingleses e franceses passaram a celebrar o Dia de São Valentim como Dia dos Namorados. Os Estados Unidos foram atrás”. Nós preferimos 12 de junho. Por quê?
Brasileirinho
Para nós, brasileiros, a data surgiu em 12 de junho de 1949 por iniciativa da loja paulista Exposição Clíper numa escolha prática, nada a ver com o Valentine’s Day americano. Como junho é um período de vendas baixas, entre o Dia das Mães e o Dia dos Pais, o publicitário João Dória lançou a data com um viés eminentemente comercial adotando o seguinte slogan: “Não é só com beijos que se prova o amor”.
Além de tudo, a data sugerida é véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro tão festejado nas festas juninas. Como na linda e ingênua canção de autoria de Lamartine Babo: “Eu pedi numa oração / Ao querido São João / Que me desse um matrimônio / São João disse que não / São João disse que não / Isso é lá com Santo Antônio”.
Trio amoroso
Amar, abraçar e beijar andam juntos. Até a língua conspira a favor da união. O trio é pele na pele. Transitivos diretos, os verbos dispensam a preposição: Paulo ama Maria, Maria ama Paulo. Paulo abraça Maria, Maria abraça Paulo. Paulo beija Maria, Maria beija Paulo.
Ouvidos atentos
O amor é cego, mas não surdo. Na substituição do nome pelo pronome, use o átono o ou a. É ele que exerce a função de objeto direto: Paulo ama Maria. (Paulo a ama.) Maria ama Paulo. (Maria o ama.) Paulo abraça Maria. (Paulo a abraça.) Maria abraça Paulo. (Maria o abraça.) Paulo beija Maria. (Paulo a beija.) Maria beija Paulo. (Maria o beija.)
Xô!
Dizer lhe ama, lhe abraça, lhe beija? Nãooooooooooooooo! É tornar os verbos transitivos indiretos. Com eles, ergue-se barreira entre os pares. Resultado: um lá, outro cá.
Leitor pergunta
Existe o verbo exitar?
Cristina Zocollo, lugar incerto
O dicionário diz que não. Mas a língua permite a formação de verbos com o acréscimo do sufixo -ar: êxito, exitar.
Resta saber se pega. Se pegar, torna-se verbete de dicionário.