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Cão de estimação: sempre ao seu lado

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O assassinato de dois moradores em situação de rua, embaixo do Viaduto Engenheiro Andrade Pinho, Bairro Santa Margarida, na Região do Barreiro, chocou não só pela crueldade, mas a cena insuportável ficou remoendo a imaginação.


Em cima do corpo do travesti, conhecido como Samira, o cão de estimação não saía de perto. Vigiava o corpo do amigo de rua e até ameaçava avançar em quem chegava perto.

Lembrei na hora de um filme de 2009, baseado em uma história verdadeira. Sempre ao seu lado, com Richard Gere (Parker) e Joan Allen (Cate). Ele, um professor universitário e ela, esposa e dona de casa.

Ao retornar do trabalho, o professor encontra na estação de trem um filhote de cachorro da raça Akita, conhecido por sua lealdade. Sem ter como deixá-lo na estação, Parker o leva para casa mesmo sabendo que a esposa é contra a presença de cachorro. 

Aos poucos, Parker se afeiçoa ao filhote, que tem o nome Hachi escrito na coleira, em japonês. Cate cede e aceita sua permanência. Hachi cresce e passa a acompanhar diariamente Parker até a estação de trem, retornando ao local no horário em que o professor está de volta. Até que o professor morre e o cão continua com a mesma rotina indefinidamente. Fiel até depois da morte do dono. 


Hoje, não quero falar sobre o horror e a violência sofridos pelo povo da rua: envenenamento de marmitas e desprezo. Incendiados por inescrupulosos enquanto dormem. Mortos a pauladas. Chutados, desprezados, como se fossem nada. Ninguém. Não dá para acreditar o que uma mente doente, cheia de ódio, pode fazer com outro ser humano. 

Pois é: hoje vou falar da lealdade, do companheirismo dos cães, principalmente com o povo da rua. A vida real também pode ser ficção e vice-versa. Desde que foi instalada na Serraria Souza Pinto, a Rede Humanitária Canto da Rua Emergencial ficou claro o amor dos animais por seus donos.

Em uma das estações da serraria, o Cantinho Animal acolhe para banho, cuidados e tratamento de cães e gatos, enquanto os donos desfrutam das atividades e serviços oferecidos pela Pastoral de Rua de Belo Horizonte.


O Cantinho Animal é um sucesso. Corre de boca a boa entre as pessoas em situação de rua. Foram 544 atendimentos a 180 cães. 

Thiago Dester, que é coordenador do espaço e da organização não governamental (ONG) “Moradores de rua e seu cães Beagá,” sabe desse laço afetivo, entre os animais e os donos, que não se rompe nem com a morte.

“Os animais são protetores e companheiros dessas pessoas. De dia, são dóceis, brincam com todos que chegam perto, mas quando os donos dormem à noite, se transformam em guardiães. Latem e até avançam em quem tentar fazer mal aos donos.”

Com dois cães da raça dogue de Bordeaux, de porte gigante, chegando a pesar 60 quilos, Thiago confessa que “o que eles têm de tamanho, têm de doçura”. Irmão de um veterinário, a família sempre conviveu com animais em casa, de patos e galinhas, até cães e gatos.


Ele sabe que os animais são puros, inocentes, espécie de anjos da guarda de seus donos, com energia limpa, transparente. São leais e amigos dos donos, apesar de muitas vezes serem abandonados e maltratados por alguns.

Desde a década de 1990, os cães saíram dos quintais onde montavam guarda e passaram a ser parte da família dentro de casas, apartamentos, mansões, quitinetes, barracões e até nas ruas da cidade. “Eles hoje são mais queridos do que alguns parentes.”

Recebem tratamento de primeira, tanto que o comércio dos pets cresceu vertiginosamente, oferecendo desde cerveja e chocolate para cães, até hospedagem, sapatos, roupas e adereços de estilo. No Cantinho Animal, recebem um QR Code, onde ficam armazenadas todas as informações sobre cada um deles. Mas antes passam por tratamento completo, de primeira linha. 


Assim que chegam, são recebidos por voluntários para detectar alguma doença contagiosa. Se for o caso, vão para uma tenda ao lado até que os exames sejam feitos e recebam remédios. Dali para a frente, só mordomia, com banho quente, limpeza dos dentes e ouvidos, secagem, aplicação de antipulgas e carrapatos. Então são vermifugados, recebem a coleira com o QR Code, além de petiscos e brinquedinhos.

Thiago Dester confirma que pesquisas e estudos científicos já provaram que os animais têm consciência de quem cuida deles, de quem dá carinho, comida e água. Há depoimentos de pessoas com depressão que se curaram com a presença de um cão ou gato.

Nos hospitais, clínicas de crianças e idosos, asilos, os animais são chamados para levar alegria, afeto, carinho e cura a todos. São cães terapeutas

É bom ver como os animais e seus donos saem radiantes da Serraria Souza Pinto, devidamente atendidos e cuidados, com dignidade e afeto que todos deveriam merecer.