Jornal Estado de Minas

Mês da mulher

A carreira das mulheres com quase 50 anos de Dia Internacional da Mulher

 
Enquanto fazia uma reunião online na cozinha de casa com um olho na tela e outro na panela de pressão que cozinha a beterraba para o almoço da minha filha, fiquei pensando no que o Dia Internacional da Mulher representa para mim. A data foi oficializada pela ONU em 1975 para simbolizar a luta histórica das mulheres em busca da equiparação de direitos com os homens.




 
Seria dia de celebrar a conquista de direitos que, em tese, já deveríamos ter apenas por sermos seres humanos, assim como os homens? Não. O Dia Internacional da Mulher representa dia de luta, de resistência, dia de trazer ao debate questões importantes sobre a equidade de gênero.
 
Na semana do 8 de março, postei em uma rede social um pedido para que as pessoas não me dessem flores nesta data, mas caso quisessem me presentear, que apoiassem assinando uma petição para que a misoginia se torne crime. Logo recebi uma mensagem dizendo que eu poderia ter os dois, flores e direitos iguais. Posso, mas não quero flores no Dia Internacional das Mulheres. Quero recebê-las em qualquer outra data do ano, mas não reforçando estereótipos de gênero no dia em que devemos refletir sobre o quanto eles oprimem as mulheres. 
 
O que alguém que te dá flores espera em troca? Um sorriso doce, um “muito obrigada, que gentil você se lembrar de mim”? Sinto muito, não consigo sorrir hoje sabendo que a cada quatro horas, ao menos uma mulher é vítima de violência no Brasil.




 
Sei reconhecer o que conquistamos até aqui, mas quando escuto o chefe das Nações Unidas (ONU) dizer que serão necessários 300 anos para alcançar a igualdade de gênero no mundo, vejo o quanto é preciso estar atenta e forte para seguir lutando. E como são muitos os direitos que nos são negados, farei aqui um recorte com relação ao mercado de trabalho. 

Como as organizações recebem as mulheres?

São ótimas secretárias, auxiliares, estão em peso nas funções relacionadas ao cuidado, como as áreas de saúde, alimentação e educação. De acordo com uma pesquisa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), cerca de 70% das equipes de trabalho em saúde e serviço social no mundo são compostas por profissionais do sexo feminino. No Brasil, 85% do total de profissionais nos serviços de enfermagem são mulheres. A única profissão da área da saúde com distribuição mais equilibrada, quase meio a meio entre homens e mulheres, é a medicina, coincidentemente a que melhor remunera. No entanto, segundo estudo recente feito pela Faculdade de Medicina da USP, médicas recebem 36% a menos que médicos.
 
Por outro lado, temos áreas em que a representatividade feminina ainda é muito baixa. Na engenharia, por exemplo, apenas 15% da força de trabalho é composta por mulheres, de acordo com os dados do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea). E também nessa área temos desigualdade salarial: as engenheiras recebem o equivalente a apenas 82% dos rendimentos de um engenheiro.




 
O que isso tem a ver com negar direitos? Ao reforçar estereótipos de gênero como a estética feminina, habilidades do cuidar atribuídas às mulheres, como se fossem inatas, estão nos negando o direito de ser e atuar na área que quisermos, de nos apresentar da maneira que entendemos mais adequada, sem medo de falar mais firme em uma reunião e alguém dizer que você deve estar de TPM.
 
Outra questão que afeta diretamente a carreira das mulheres é a maternidade. Você sabia que três em cada sete mulheres sentem medo de engravidar e serem demitidas? Esse medo é real e foi comprovado em um estudo da Fundação Getúlio Vargas: 50% das mulheres são demitidas em até 24 meses da volta da licença maternidade (eu fiz parte dessa estatística).
 
 
Essa realidade faz com que 56% das mulheres enxerguem uma dificuldade maior no sucesso profissional com filhos, pois apenas um terço consegue voltar ao trabalho com o fim da licença-maternidade, outros 25% nos 6 meses seguintes e para 22% é praticamente impossível trabalhar novamente depois de se tornarem mães. 




 

E a sua empresa, como tem se posicionado para contribuir na redução da desigualdade de gênero?

É preciso lembrar que para corrigir processos de exclusão históricos, como no caso das mulheres que demoraram muito tempo para ter espaço no mercado de trabalho, é preciso ter intencionalidade nas ações. As políticas afirmativas têm esse papel e são essenciais para nos aproximar da equidade de gênero. Alguns exemplos dessas ações são: vagas exclusivas para mulheres, que podem ter recorte racial ou foco em mulheres que são mães e estão fora do mercado de trabalho; programas de desenvolvimento em áreas onde há prevalência de homens, como a mineração e a  tecnologia; programa de apoio à parentalidade que incluam a participação dos homens na divisão de tarefas relacionadas à família.
 
A Diversifica é uma consultoria em diversidade, equidade e inclusão. Referência em educação para a diversidade, a Diversifica une conhecimento acadêmico com práticas de mercado, apoiando a transformação dos ambientes organizacionais em espaços de respeito às individualidades, maior engajamento e pertencimento.
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