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Estado de Minas DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Mulheres, as barreiras estão aí para serem rompidas!

Dividir espaços sociais com princípios básicos de justiça, empatia e igualdade de oportunidades está para além de reivindicar direitos


08/03/2021 06:00 - atualizado 23/03/2021 10:02

"É no mercado de trabalho que diversas expressões do saber se manifestam" (foto: Pixabay)


Com pouco mais de 20 anos de idade voltei minhas leituras para escritoras mulheres e, a partir daí, mesclei interesses acadêmicos e pessoais. Adentrei-me no universo literário de Simone de Beauvoir e Camila Paglia para entender o papel da mulher na sociedade e no mercado de trabalho; posteriormente direcionei meu interesse para mulheres mais enigmáticas como Clarice Lispector, Virginia Wolf, Florbela Espanca e mais recentemente atrai-me pela literatura cortante de Leila Slimani e Svetlana Alexievitch. 

O universo feminino é algo sempre a ser desvendado. A começar pelo corpo cheio de curvas, que reflete sua maneira de conduzir escolhas e afetos, em contraponto ao masculino, mais reto, lidando de forma direta e objetiva com suas questões. As esculturas de Camille Claudel e Rodin são ótimas expressões da diferença entre os traços que marcam questões de gênero e se refletem na arte: Claudel, artista singular (tratada como louca!) apresenta em suas esculturas marcante sensibilidade de um olhar feminino. 

A arte, em suas diversas formas, é instrumento de expressão dos sujeitos e precisa de espaços sociais para lhe garantir forma e vida. E são nesses mesmos espaços sociais que os sujeitos constroem suas relações de afeto e de saber. É no mercado de trabalho que diversas expressões do saber se manifestam.

Maior vulnerabilidade foi imposta às mulheres na pandemia de COVID-19, muitas com tripla jornada de trabalho(foto: Pixabay)
Maior vulnerabilidade foi imposta às mulheres na pandemia de COVID-19, muitas com tripla jornada de trabalho (foto: Pixabay)


Neste dia 08 de março de 2021, adentrando no segundo ano da pandemia da COVID-19, com as sociedades exauridas pelos desafios impostos à uma vida com restrições para se viver, no mínimo duas evidências são motivos de grande reflexão para as mulheres: a primeira diz respeito à exímia condução dessa crise sanitária por duas chefes de Estado, Angela Merkel e Jacida Ardern; e, a segunda, à deflagração da condição de maior vulnerabilidade imposta às mulheres. Foram elas as mais sacrificadas, encerraram o ano com taxa líquida negativa de contratação e viram-se no desafio de trabalhar e cuidar dos filhos que já não tinham mais as escolas e creches em funcionamento.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no último dia 04, os Indicadores sociais das mulheres no Brasil - 2a edição, com resultados relativos ao ano de 2019. As mulheres apresentaram melhor performance educacional e eram maioria nos cursos das áreas de ciências biológicas e afins (68,1%), bem como nas ciências físicas (50,2%), porém ainda grande minoria em engenharia e profissões correlatas (24%).

Muito embora 19,4% das mulheres com mais de 25 anos de idade possuíssem nível superior de escolaridade, ante 15,1% dos homens, sua participação em cargos gerenciais era de 37,4%.

Acrescida à desproporção de ocupação tem-se as disparidades salariais: nos cargos de diretoria e gerência, assim como nos de profissionais das ciências e intelectuais, os homens auferiram rendimentos, em média, cerca de 60% superior às mulheres.

Na vida pública, mulheres representavam 14,8% do total de parlamentares na Câmara dos Deputados e 16% nas câmaras de vereadores.

"Cabe às mulheres tornarem-se rainhas de seus destinos, apropriarem-se de seus papéis e seguirem seus caminhos" (foto: Pixabay)


Na divisão doméstica do trabalho, elas dedicavam número médio de 18,5 horas semanais enquanto os homens despendiam 10,4 horas semanais de seu tempo nos mesmos afazeres. Na distribuição setorial, 85,1% das mulheres trabalhavam nos serviços, 10,7% na indústria e 4,1% na agricultura. Já os homens se distribuíam de maneira menos disforme, com 59,5% nos serviços, 27,4% e 13,0%, na indústria e na agricultura, respectivamente.

Para reforçar o coro das disparidades, o mais recente resultado do cálculo do déficit habitacional do País, divulgado pela Fundação João Pinheiro e o Ministério do Desenvolvimento Regional, no dia 05, aponta que, em 2019, o componente ônus excessivo com aluguel urbano, responsável por 51,7% do déficit habitacional total, recaiu predominantemente (62%) sobre os domicílios cujo responsável era mulher. 

O equilíbrio entre realização profissional e pessoal ainda exige esforços de forma mais desigual e injusta por parte das mulheres frente aos homens. Dividir espaços sociais com princípios básicos de justiça, empatia e igualdade de oportunidades está para além de reivindicar direitos. Cabe às mulheres tornarem-se rainhas de seus destinos, apropriarem-se de seus papéis e seguirem seus caminhos, arcando com o ônus e o bônus da beleza de serem o que são. 

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