Nos anos 80 do século passado, a televisão brasileira, nossa grande rede de comunicação à época, tinha verdadeira concorrência entre propagandas, muitas delas, geniais. Eram motivos de brincadeiras e analogias nos círculos de amigos e, até mesmo, nos ambientes de trabalho. Dentre as propagandas daquela época, recordo-me de uma cujo slogan dizia: “Tostines vende mais por que é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais (?)”.
Em economia buscamos, continuamente, explicar os fenômenos com base no comportamento de variáveis selecionadas. Algumas, por sua forte conotação teórica, são facilmente observadas; outras, nem tanto, ou simplesmente não existem. Por exemplo, a Lei de Okun – nome oriundo de seu autor, o economista Arthur Okun, é uma teoria que descreve a relação inversa entre taxa de desemprego e taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Sua averiguação empírica é fato!
Há também as relações espúrias, que são meras coincidências de fenômenos que ocorrem simultaneamente, na mesma direção ou não, e que podem “induzir” os mais desavisados a conclusões totalmente equivocadas. Como exemplo prático atual, no Brasil, o que mais estamos observando em discursos equivocados e defesas insensatas no que diz respeito ao tratamento da COVID-19 são fruto de relações espúrias. Afinal, seria o mundo científico todo insensato e só parte da comunidade brasileira a estar certa em adotar tratamento precoce?
Os números de óbitos não deixam mais dúvidas sobre esse e outros equívocos cometidos na condução da pandemia no país.
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), que pode ser considerada um dos indicadores antecedentes do PIB. Seu resultado mas recente, referente a fevereiro de 2021, indica queda na produção física industrial, ou seja, no seu volume produzido. Como indica o gráfico acima, desde 2012, a produção da indústria vem seguindo tendência de queda.
Se compararmos a evolução do volume (produção física) do PIB total do país com o da indústria, podemos observar que, ao longo dos anos de 1996 a 2020, e sobretudo a partir de 2007, foi-se criando distanciamento cada vez maior entre a variação de produção do PIB total e o da indústria. Resumindo: a indústria vem perdendo contínua participação no PIB total do país.
A queda da participação da indústria no PIB total pode conter várias explicações, mas acende alerta para a ausência da revolução 4.0 no cenário nacional. De fato, em início de 2020, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que apenas 1,4% das indústrias brasileiras havia aderido à Indústria 4.0.
Em estudo recente, o economista Ricardo Paes de Barros mostrou que, em 30 anos - entre 1983 e 2013 -, o brasileiro havia ganho cinco anos a mais em sua escolaridade média, mas sem nenhuma conversão em ganhos de produtividade.
Daí entramos no efeito Tostines: a indústria brasileira não é capaz de aderir à revolução 4.0 porque não tem mão de obra qualificada, ou não qualifica melhor sua mão de obra porque não adere à revolução 4.0? A questão da qualificação da mão de obra é, sem dúvida, base de grande parte de nossos problemas estruturais. Uma sociedade sem qualificação (educação) não é capaz de acompanhar os movimentos de mudanças de padrão tecnológico que o mundo vem imprimindo, a velocidade cada vez maior.
Nossa habilidade para sonhar e acreditar que a mão mágica do mercado nos levará ao paraíso econômico e que seremos o país do futuro ainda se faz presente no Brasil. No dia 31/03, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) divulgou seu Índice de Confiança Empresarial (ICE), que agrega quatro setores da economia: indústria, serviços, comércio e construção.
Todos os resultados setoriais apontaram para queda, pela terceira vez, do ICE. No entanto, o único dos quatro índices que ainda se mantém em patamar de otimismo relativo é o dos empresários da indústria. O setor industrial precisa acordar! O país precisa acordar, parar de ignorar a forte relação entre as variáveis educação, tecnologia, investimento e ganhos de produtividade. Afinal, no efeito Tostines vivido pela indústria, não há relação espúria.