Certa vez, o laureado ao Nobel de Economia Paul Krugman afirmou que “a capacidade de um país melhorar seu padrão de vida no longo prazo dependia quase que inteiramente de sua capacidade de aumentar a produção por trabalhador”. A pandemia do coronavírus desnudou duas questões antagônicas capazes de potencializar os desafios sociais no médio prazo: (1) o crescimento do desemprego entre pessoas com baixa escolaridade ou menos qualificadas, e (2) a expansão da automatização e das profissões mais intensivas em tecnologia.
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Inovação 'forçada' avança na indústria brasileiraBrasil e seu desemprego na idade da pedra lascadaPoderão os jogos olímpicos ser palco de um novo ciclo da humanidade?Taxa de desemprego fica em 14,7% no trimestre, revela IBGEOs resultados da União Europeia deveriam assombrar o BrasilAs exportações que mascaram a produção e o (des)empregoBrasil: desemprego, PIB e a doce ilusão do crescimento em 2021 Covid-19: para além da imunização, o desalento dos menos escolarizadosO recém-publicado estudo What pandemics mean for robots and inequality (O que as pandemias significam para os robôs e a desigualdade) de autoria de Tahsin Saadi Sedik e Jiae Yoo, economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), demonstra que as pandemias são propulsoras de incremento na robotização, mas também do aumento da desigualdade no mercado de trabalho. Essas evidências são mais acentuadas nas economias avançadas, onde processos de automação têm condição de expandirem mais rapidamente e gerarem, no médio prazo, desafios maiores de alocação de parte dos trabalhadores que ali ganhavam seu sustento e, de alguma forma, se realizavam profissionalmente.
Os autores estudaram a intensidade da robotização após quatro pandemias – Sars, em 2003, H1N1, em 2009, MERS, em 2012, e Ebola em 2014 e apontaram duas importantes constatações. A primeira, a intensificação do uso de robôs como medida de prevenção à utilização da mão de obra humana, sobretudo nas economias que sofreram fortes impactos sobre a saúde e consequentes quedas de suas atividade econômicas. A segunda, o aumento das desigualdades sociais, mostrou-se mais proeminente nos países onde a automação se fez mais intensa, uma vez que afetava parte dos trabalhadores menos qualificados.
Em 2020, dois estudos internacionais mais expressivos, realizados pelo World Economic Forum (WEF) e pela consultoria McKinsey, buscaram estimar as tendências do trabalho do futuro após a pandemia do coronavírus. Na pesquisa da McKinsey, com atualização em fevereiro último, os resultados reforçam aqueles apontados pelo estudo do FMI, com a prevalência de mudança tecnológica em áreas onde a presença humana possa ser substituída pela automação e/ou robotização: automação e inteligência artificial, seguida de modos ágeis de trabalho e experiência digital do consumidor lideram as novas tendências do mercado de trabalho.
No estudo do WEF, os resultados apontaram na direção do aumento do uso das tecnologias, por 43% das empresas líderes internacionais, e da destruição de parte dos empregos vigentes, não compensados pela criação de novos. Segurança cibernética, computação de nuvem, nanotubos e robôs foram as tecnologias de destaque a serem incrementadas até 2025.
Ainda em fins de 2020, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou pesquisa onde se constatou que metade das fábricas brasileiras tinham dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, especialmente nos cargos de produção, cujos ocupantes possuíam escolaridade de nível médio sem nenhum grau de especialização – no caso, cursos técnicos. Ainda nessa pesquisa, a CNI revela a percepção do empresariado de que a inovação encontra, na qualidade da mão de obra, entrave capaz de promover impacto negativo direto sobre a capacidade de realização de mudança tecnológica e geração de ganhos de produtividade.
Se o Brasil não tem sido capaz de converter aumento nos anos médio de escolaridade em ganhos de produtividade, não resta dúvida de que baixo nível de investimento e perda de participação no Produto Interno Bruto (PIB) vêm configurando, cada vez mais, a indústria como inimigo íntimo do desalento, da subutilização das horas trabalhadas e do ônus social.
Avanços tecnológicos apontados pelos estudos aqui trazidos também indicam mudanças na composição de parte do setor serviços da economia. Até o momento, ainda não está claro a quem caberá pagar a conta da combinação perfeita entre baixa qualidade da escolaridade, desemprego e novas exigências para se abrigar parte dos desempregados nos trabalhos do futuro, mas torna-se cada vez mais evidente que essa conta chegará e será alta. A indústria e os governos que se cuidem!