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Estado de Minas GESTÃO PÚBLICA

Quem ficará de fora nos trabalhos do futuro?

Baixo nível de investimento e perda de participação no Produto Interno Bruto vêm configurando, cada vez mais, a indústria como inimigo íntimo do desalento


18/05/2021 06:31 - atualizado 18/05/2021 06:57

(foto: CA Plants)


Certa vez, o laureado ao Nobel de Economia Paul Krugman afirmou que “a capacidade de um país melhorar seu padrão de vida no longo prazo dependia quase que inteiramente de sua capacidade de aumentar a produção por trabalhador”. A pandemia do coronavírus desnudou duas questões antagônicas capazes de potencializar os desafios sociais no médio prazo: (1) o crescimento do desemprego entre pessoas com baixa escolaridade ou menos qualificadas, e (2) a expansão da automatização e das profissões mais intensivas em tecnologia

Embora avanço tecnológico seja condição para se incrementar os ganhos de produtividade, pode igualmente propulsionar o aumento do contingente de trabalhadores desalentados que precisam encontrar alguma forma de subsistência – não necessariamente de nível digno de bem-estar. Em outras palavras, se ganhos de produtividade de um país decorrerem essencialmente dos avanços tecnológicos e não forem acompanhados por ganhos na qualidade educacional de seus trabalhadores, o país estará refém de criar políticas sociais que cuidem cada vez mais do crescente exército de desalentados.

O recém-publicado estudo What pandemics mean for robots and inequality (O que as pandemias significam para os robôs e a desigualdade) de autoria de Tahsin Saadi Sedik e Jiae Yoo, economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), demonstra que as pandemias são propulsoras de incremento na robotização, mas também do aumento da desigualdade no mercado de trabalho. Essas evidências são mais acentuadas nas economias avançadas, onde processos de automação têm condição de expandirem mais rapidamente e gerarem, no médio prazo, desafios maiores de alocação de parte dos trabalhadores que ali ganhavam seu sustento e, de alguma forma, se realizavam profissionalmente.

Os autores estudaram a intensidade da robotização após quatro pandemias – Sars, em 2003, H1N1, em 2009, MERS, em 2012, e Ebola em 2014 e apontaram duas importantes constatações. A primeira, a intensificação do uso de robôs como medida de prevenção à utilização da mão de obra humana, sobretudo nas economias que sofreram fortes impactos sobre a saúde e consequentes quedas de suas atividade econômicas. A segunda, o aumento das desigualdades sociais, mostrou-se mais proeminente nos países onde a automação se fez mais intensa, uma vez que afetava parte dos trabalhadores menos qualificados. 

Em 2020, dois estudos internacionais mais expressivos, realizados pelo World Economic Forum (WEF) e pela consultoria McKinsey, buscaram estimar as tendências do trabalho do futuro após a pandemia do coronavírus. Na pesquisa da McKinsey, com atualização em fevereiro último, os resultados reforçam aqueles apontados pelo  estudo do FMI, com a prevalência de mudança tecnológica em áreas onde a presença humana possa ser substituída pela automação e/ou robotização: automação e inteligência artificial, seguida de modos ágeis de trabalho e experiência digital do consumidor lideram as novas tendências do mercado de trabalho

No estudo do WEF, os resultados apontaram na direção do aumento do uso das tecnologias, por 43% das empresas líderes internacionais, e da destruição de parte dos empregos vigentes, não compensados pela criação de novos. Segurança cibernética, computação de nuvem, nanotubos e robôs foram as tecnologias de destaque a serem incrementadas até 2025. 

Ainda em fins de 2020, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou pesquisa onde se constatou que metade das fábricas brasileiras tinham dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, especialmente nos cargos de produção, cujos ocupantes possuíam escolaridade de nível médio sem nenhum grau de especialização – no caso, cursos técnicos. Ainda nessa pesquisa, a CNI revela a percepção do empresariado de que a inovação encontra, na qualidade da mão de obra, entrave capaz de promover impacto negativo direto sobre a capacidade de realização de mudança tecnológica e geração de ganhos de produtividade.

Se o Brasil não tem sido capaz de converter aumento nos anos médio de escolaridade em ganhos de produtividade, não resta dúvida de que baixo nível de investimento e perda de participação no Produto Interno Bruto (PIB) vêm configurando, cada vez mais, a indústria como inimigo íntimo do desalento, da subutilização das horas trabalhadas e do ônus social. 

Avanços tecnológicos apontados pelos estudos aqui trazidos também indicam mudanças na composição de parte do setor serviços da economia. Até o momento, ainda não está claro a quem caberá pagar a conta da combinação perfeita entre baixa qualidade da escolaridade, desemprego e novas exigências para se abrigar parte dos desempregados nos trabalhos do futuro, mas torna-se cada vez mais evidente que essa conta chegará e será alta. A indústria e os governos que se cuidem!

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