Como dito nesta terça-feira (1º/6) nesse espaço, os dados preliminares das pesquisas que subsidiam o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) traziam sopros de otimismo para uma economia que vinha amargando resultados ruins desde o início da crise econômica deflagrada em 2014. De lá para cá, o país vem se apegando a todo resultado positivo do PIB como feixe de luz a trazer esperança para dias melhores.
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Carta aberta aos formuladores de políticas públicasCOVID-19: Quanto teria custado manter as aulas do ensino público em 2020?Os efeitos silenciosos da pandemiaPIB, desemprego e acúmulo de riqueza: tripé que não se equilibraOs resultados da União Europeia deveriam assombrar o BrasilMortes por desespero podem ser o futuro das crianças expostas ao trabalhoA Lei de Okun, nome oriundo do autor que a formulou, afirma que há uma relação negativa entre a taxa de desocupação (desemprego) e a taxa de variação do PIB real. Em outras palavras, a Lei de Okun diz que se o desemprego está aumentando, menos pessoas estão participando das atividades econômicas e, por conseguinte, o PIB está caindo. No inverso, aumento do PIB significa queda do desemprego. Okun testou essa relação nos idos de 60 do século passado e encontrou fortes evidências empíricas.
Para a economia brasileira, há algum tempo que a lei de Okun não tem forte aderência, como pode-se notar graficamente pelas séries da taxa de desocupação (desemprego) e da taxa trimestral de variação do PIB, desde o primeiro trimestre de 2012 até o equivalente de 2021. Endossando essa afirmativa, o exemplo mais recente foi o aumento da taxa de desocupação do primeiro trimestre de 2021 em direção oposta ao resultado do PIB de igual período, o que reforça dois pontos que levantei sobre as expectativas para o primeiro trimestre de 2021.
Primeiro, que parte do crescimento do PIB tem se dado em decorrência do descolamento entre os índices de volume e de preços. Assim, não parece haver necessidade de se contratar mais mão de obra, uma vez que são menos os ganhos de volume e mais os de preço que estão endossando o resultado final.
Segundo, que nos setores cujas expansões se deram de forma mais expressiva nesse primeiro trimestre - agropecuária e extrativa mineral -, a demanda externa associada à desvalorização cambial e ao preço internacional das commodities produziram combinação perfeita. O subsetor serviços de transporte, armazenagem e correio, bem como a construção também apresentou melhor desempenho, mas ainda com expressivo déficit acumulado nos últimos doze meses.
O que mais chama atenção em todas comparações temporais é o resultado negativo do consumo das famílias e dos governos. A contração da administração pública reforça a dificuldade da retomada consistente da atividade econômica e a queda no consumo das famílias surge como consequência do elevado nível de desemprego e da perda de massa salarial real.
Voltando à lei de Okun, poderíamos questionar se ganhos tecnológicos não estariam alterando a relação entre PIB e desemprego para o caso brasileiro, mas tal argumento seria rapidamente refutado pela evidência internacional, sobretudo de economias mais desenvolvidas. Para piorar, nem o argumento tecnológico nos salvaria, uma vez que nosso déficit de investimento em inovação e pesquisa tem reduzido a fatia de nossa indústria no PIB nacional.
Portanto, não há quase o que se comemorar enquanto o país não der sinais consistentes de que seu crescimento econômico esteja atrelado à queda do desemprego e ao aumento do investimento em ciência, pesquisa, inovação e educação em geral. Todo cuidado é pouco para se juntar ao coro daqueles que “realizam apostas” com os resultados que o curto prazo previsível está nos trazendo. Como dizia o poeta estoico romano Sêneca, “quanto mais numerosas forem as pessoas com as quais convivemos, maior é o perigo”.